Janela indiscreta

postado em: Cotidiano 3

A vida alheia, na verdade, de alheia não tem nada. Nós nos envolvemos mais com a vida dos outros do que imaginamos (ou queremos). Involuntariamente acabo sabendo que um conhecido está namorando, que outro procura emprego, que um terceiro está doando filhotes de labrador, que alguém trocou de celular e por aí vai.

A Internet é a maior ferramenta de invasão de privacidade (ou de exibicionismo) que já inventaram. E não me refiro ao Orkut – este é óbvio demais. Falo de algo mais simples, mais direto: o MSN Messenger (ou Windows Live Messenger). Desde que o programinha de mensagens instantâneas trouxe a capacidade das pessoas escreverem pequenas frases ao lado de seus nomes, a falta de bom senso (ou excesso de necessidade de atenção) impera.

Vê-se de tudo um pouco: de citações bíblicas a letras de música. Até aí, nada de mais. Cada um escreve o que bem entender em seu espaço e ninguém tem nada a ver com isso. Mas a diversão começa quando as pessoas descrevem situações e acontecimentos pessoais nesses espaços.

Por exemplo, um dos meus contatos parece ter uma compulsão quase patológica por expôr sua vida a meio mundo. Cheguei a contar cinco frases diferentes num mesmo dia, todas descrevendo sentimentos da pessoa sobre uma determinada situação. Impossível não reparar, pois, mesmo que eu não queira saber, basta abrir a janela do meu Messenger e pronto, lá está, em letras garrafais: “Ex-marido bom é ex-marido MORTO! Maldito, vem gritar comigo, seu idiota, e não com sua filha… Covarde!”. Ou então: “Zé, o que você fez não tem nem nome, nunca mais quero vê-lo na minha frente.”

Claro que fiquei morrendo de vontade de saber o que o “Zé” fez de tão abominável, afinal ele era o alvo de todos os elogios possíveis no mundo, dias antes. Felizmente, me contive. Mas a coisa continua. Foi-se o pobre “Zé” e, semanas depois: “Fulano, que bom que te encontrei! Nunca mais quero largar de você”. Então Fulano desaparece por algum tempo e, mais tarde: “Cicrano, te amo como nunca amei ninguém”. Então, tempos depois: “Beltrano, finalmente encontrei minha alma gêmea”. Aí o Beltrano some, dando lugar para eventos como “hoje é dia de balada”, “pessoal, vamos tomar todas”, etc. Então, depois do ex-marido, do “Zé”, do Fulano, do Cicrano e do Beltrano, hoje li o seguinte: “Não sou pra qualquer um”.

Isso é divertidíssimo! Quase nunca falo com essa pessoa – no máximo um ‘parabéns’ nos aniversários. Já pensei diversas vezes em removê-la da minha lista de contatos, mas confesso que fiquei viciado nessa ‘novela’. Simples frases diárias que, juntas, transformam-se em uma epopéia de indiscrição da vida pessoal. Mal posso esperar pelo próximo capítulo.

Seguir Emilio Calil:
Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

3 Responses

  1. Alegt
    | Responder

    Concordo com vc Emilio. Meu MSN passa a fica funcionando e é fácil saber quando conversar com alguém…. O mais divertido é quando a pessoa coloca o status – AUSENTE e, do nada, você chama e ela atende…rs.. Tai uma dica pra Microsoft: TROCAR O AUSENTE por NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ…rs

  2. Kosher-X
    | Responder

    Putz, e você ainda tem a audácia de dizer que não gosta de Nelson Rodrigues, Emílio!
    Dá mais uma chance ao pernambucano, tenho certeza que você gostará disso, baseado no teu interesse por novelas baseadas em casos sentimentais controversos.

    E lembre-se sempre: “TODA mulher gosta mesmo é de apanhar. Só as loucas é que não gostam”. Isso aí explica o caso da tua amiga. Ela conta pro mundo através do MSN porque ela quer mais homens para que ela possa apanhar mais.

  3. Mariana
    | Responder

    Oi Emílio….

    Sensacional…..o post JANELA INDISCRETA….realmente uma novela…onde a cada dia você fica sabendo o paradeiro de cada personagem…

    PARABÉNS……muito boa colocação!

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