Semana passada conversava com uma amiga que trabalha na matriz da empresa, lá em Seattle (EUA). Falávamos de futilidades quando ela resolve tocar no assunto da queda do Airbus AF447 da Air France. "Que coisa horrível, não?" diz ela. "Como um avião pode desaparecer dessa forma? Os familiares das vítimas devem estar sofrendo muito".
Respondi que o avião não sumiu, pois encontraram partes da fuselagem e alguns corpos. "Ah, sim, vi algo a respeito no noticiário daqui." respondeu ela – "Mesmo, assim, não deixa de ser um mistério".
Eu, querendo fazer graça, mencionei que por aqui surgiram algumas teorias malucas para explicar o desaparecimento do avião. Ela quis saber quais e falei da ambientalista que afirmou que o avião atravessou um buraco negro e foi parar em outra dimensão. Do outro lado do Messenger, a milhares de quilômetros de distância, o silêncio. De repente, ela dá sinal de vida: "Oh, c’mon!"
"É verdade" retruquei. "Nem eu acreditei quando li". Ela se assustou: "Espere um minuto! Como assim você leu?" disse. "Está me dizendo que isso foi publicado em algum lugar?". Fiquei meio sem resposta para a pergunta dela e resolvi enviar-lhe o link com a notícia (este aqui). Como ela não entende português, ajudei na tradução. Ela me perguntou o significado de "ambientalista". Expliquei que é a pessoa que cuida da proteção de ambientes naturais e ela fez outra pausa.
E voltou: "Não quero dizer que a mulher seja louca, mas que autoridade uma ambientalista tem para dar uma entrevista sobre buracos negros à imprensa?". Se a primeira pergunta já era difícil de responder, essa então foi ainda pior. Fiquei rindo sozinho olhando para a pergunta.
Tentei explicar que a matéria não tinha o propósito de ser séria e que o artigo depunha contra a própria ambientalista, mas minha amiga não conseguia entender por que o site se daria ao trabalho de publicar essa entrevista, principalmente por se tratar de uma tragédia que não era engraçada.
Comentei algo sobre o brasileiro rir da própria desgraça, mas não fui claro. Tentei explicar que o Brasil é um país que tenta passar a impressão de sério, mas não consegue. E que por aqui há peculiaridades que talvez não existam em nenhum outro lugar. Disse que até mesmo as leis da natureza aqui devem ser diferentes. E, no fim, a melhor maneira de descrever o Brasil para ela foi comparando-o a um gigantesco episódio de Twilight Zone (Além da Imaginação). Aí ela entendeu ou pelo menos teve uma idéia. E achou a comparação divertida. Tão divertida que pretende visitar o Brasil nos próximos anos (céus, o que foi que eu fiz?). Em todo caso, ofereci-me como cicerone para quando ela vier para estas plagas. Não sei qual de nós vai se divertir mais com isso.
Lá pelas 18h ela diz: "Bom, imagino que você aí já esteja se preparando para ir embora, não?" (o fuso de Seattle são 4 horas a menos do que o Brasil). Respondi: "Não, na verdade vou ter que ficar por aqui até umas 20h, porque hoje é rodízio do meu carro e não posso rodar com ele nesse horário, senão sou multado". E ela: "Como é que é?"
E começamos tudo de novo
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Nossa, essa do buraco negro foi demais, mas não posso negar que imaginei que teorias como essa apareceriam, só achei que seriam sobre extraterrestres. Aliás os extraterrestres vivem roubando coisas por aqui, não é mesmo. São delinquentes espaciais, hahaha.
Bom, acho que essa ambientalista leu muito Stephen King, ela esqueceu de dizer que na outra dimensão os tripulantes foram atacados pelos langoliers.
Ah, mas a teoria do meteoro era muito melhor. Um meteoro bom de mira.
Eu ainda prefiro aquela conspiração afirmando que é uma trama dos judeus. Afinal, não havia nenhum judeu naquele avião.
Agora, Brasil, tentando passar a impressão de sério? Onde? Que Brasil é esse que não existe? Nunca vi.