Categorias: Cotidiano

O duro golpe da realidade

Vamos assistir ao coral de natal no shopping Anália Franco? – perguntou minha noiva. Era domingo, dia 23, e seria a última apresentação da orquestra. Como não resisto à música clássica, o convite foi mais do que bem recebido. Fomos.

Quem esteve lá conferiu a maravilhosa performance da composição de cordas (violinos e violoncelos) e vocais. Os primeiros acordes já serviram para marejar os olhos. Estávamos na galeria superior, que circunda o grande vão do shopping, e a orquestra tocava bem abaixo de nós. Não tínhamos a melhor visão, mas a acústica era perfeita. O ponto alto foi a interpretação de Hallelujah, da obra O Messias, de Handel. Impecável.

A certa altura, ergui os olhos e comecei a perceber as pessoas em volta. Aglomeravam-se para ver a apresentação, maravilhadas. Mais gente do que eu esperava – brasileiro gosta de música clássica, apenas não tem o costume de manter contato freqüente com o gênero. Senti-me, por breves momentos, no meio de pessoas civilizadas, apreciadoras das coisas boas que a vida oferece.

Fim da apresentação, chuva de aplausos – eu não batia palmas apenas para a orquestra e coral, mas para os espectadores que, em meio à correria das compras, dedicaram uma pequena hora das suas vidas para desfrutar de boa música em confraternização no shopping.

Infelizmente, exagerei com as palmas. Ao levantarmos, papéis amassados e copos de milk shake decoravam os bancos ao redor. Senti, como um murro nas fuças, o golpe da realidade: Eu não estava na civilização.

Fica ao menos a imagem dos músicos curvando-se ante os aplausos. Parasse a história ali, tudo teria sido perfeito.

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

Ver comentários

  • Bom, aqui é a terra do futebol, carnaval e agora de assalto a "museus de arte".
    Mas o que você disse é verdade Emílio, o brasileiro gosta de música boa também, música de verdade. Mas infelizmente preferem se satisfazer com as porcarias que as rádios tocam, ou seja, são superinfluenciados pela mídia. Veja a Globo por exemplo, fim de ano é de praxe, show do "rei" Roberto Carlos (para um país presidencialista temos reis até demais). Shows de Ivete Sangalo ou coisas do tipo. Pavaroti morreu e não vi eles anunciarem nenhum especial pelo menos como homenagem ao cantor.

    É assim.

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Emilio Calil

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