Categorias: Cotidiano

Obrigado, Zé

Vão-se aí uns bons vinte e cinco anos, senão mais. Os ponteiros do relógio arrastavam-se pesadamente para dar as doze badaladas, quando champanhes estourariam, brindes seriam feitos e as ceias, servidas. Para nós, crianças, o interesse era apenas um: os presentes. A ansiedade aumentava à medida que o ponteiro dos segundos se movia. Então, como que em resposta àqueles momentos de tensão, a campainha toca. Quem seria a esta hora? Ouve-se, vindo do corredor, o ‘ho ho ho’ que precedia a entrada do personagem mais aguardado nessa época do ano.

Pela porta da sala – tudo bem, não tínhamos chaminé – ele surge. Não tão gordo como parecia na TV. A barba também não tão comprida – era até rala. A portentosa voz era, ao vivo, um tanto mirrada, denotando que o peso da idade não fora gentil com ele. Além do mais, parecia muito com um amigo do meu avô.

Acho que éramos os últimos da lista dele, pois o saco ficou vazio ao nos entregar os presentes. Finda a missão, começou a se despedir. A família toda vibrava, mas nós nos limitamos a agradecê-lo educadamente. Ao passar pela porta, rumo ao corredor, ele faz um último aceno, ao qual meu avô responde com um animado grito: “Obrigado, Zé!”

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

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  • Sabia sim, Emerson. Na verdade, sabia desde o começo quem era, mas pra não estragar a surpresa, fiquei quieto. O Zé faleceu pouco antes do meu avô, mas certas histórias ficam marcadas e sempre voltam à mente nessa época do ano.

  • Oi Emilio, essa história me fez lembrar de uma parecida com relação ao meu filho, Rodrigo. Sempre mantivemos essa tradição de papai noel.....onde os mais velhos, tios apareciam no momento mais esperados por nossas crianças. Só que por um determinado ano foi impossível um deles comparecer....e na pressa pegamos uma roupa reserva e pra não deixarmos as crianças tristes, lá foi um papai noel de última hora, a roupa um pouco curta e nada de botas pretas...foi de sapato mesmo....só não esperávamos um comentário tão ingênuo da parte do Rodrigo, assim que o bom velhinho se foi: - " Mãe, por que o papai noel estava com o relógio e o sapato do vovô Zé?"........

  • Aquele foi o último ano de crença do meu filho!!!! Mas mesmo assim nunca deixamos morrer esse sentimento. Nos anos seguintes ele, Rodrigo teve até roupa de Duende para simular um pseudo ajudante de papai noel!!!!Ainda haviam crianças menores que ele!

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Emilio Calil

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