Categorias: Cotidiano

Pseudo-crônica de Arando Jabor

Recebi esse texto por e-mail, assinado como uma crônica de Arnaldo Jabor. Duvido muito. Procurei referências sobre isso e não achei nada. Sem falar que havia muitos erros de gramática e concordância, além desse não ser o estilo do Jabor. A mim parece mais alguém que escreveu o texto e, para garantir que o mesmo fosse repassado para o maior número possível de pessoas, atribuiu-o a um cronista conhecido. É coisa corriqueira nesses tempos de Internet e informação rápida. Poucos se darão ao trabalho de confirmar a veracidade disso e apenas encaminharão o e-mail às suas listas de contatos. Seja como for, o conteúdo até que não é de todo ruim, e expressa o pensamento de muita gente. Vamos a ele:

Brasileiro é um povo solidário. Mentira.
Brasileiro é babaca. Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida; pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; aceitar que ONGs de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade… Não protestar cada vez que o governo compra colchões para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária. É coisa de gente otária.

Brasileiro é um povo alegre. Mentira.
Brasileiro é bobalhão. Fazer piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada. Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai. Brasileiro tem um sério problema. Quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo.

Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira.
Brasileiro é vagabundo por excelência. O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país, surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês, para trabalhar três dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe – lá no fundo – que se estivesse no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do Bolsa Família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.

Brasileiro é um povo honesto. Mentira.
Já foi; hoje é uma qualidade em baixa. Se você oferecer 50 euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso. Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.

90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira.
Já foi. Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e mulatos retornando da Guerra do Paraguai ali se instalaram. Naquela época quem morava lá era gente honesta, que não tinha alternativa, e não concordava com o crime. Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como ‘aviãozinho’ do tráfico para ganhar uma grana legal. Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3, mas não milhares de pessoas. Além disso, cooperariam com a polícia na identificação de criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas favelas.

O Brasil é um país democrático. Mentira.
Num país democrático a vontade da maioria é Lei. A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente. Num país onde todos têm direitos, mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia. Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta não existe democracia, mas um simulacro hipócrita. Se tirarmos o pano do politicamente correto veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores). Todos sustentados pelo povo que paga tributos que tem como único fim, o pagamento dos privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar. Democracia isso?

O famoso jeitinho brasileiro.
Em minha opinião, um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira. Brasileiro se acha malandro, muito esperto. Faz um ‘gato’ puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar.

No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais, caramba, silenciosamente ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto… malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí?

Afinal somos pentacampeões do mundo, né? Grande coisa…

O Brasil é o país do futuro.
Caramba, meu avô dizia isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar como seria a indignação e revolta dos meus avós se ainda estivessem vivos. Dessa vergonha eles se safaram… Brasil, o país do futuro!? Hoje o futuro chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.

Deus é brasileiro.
Puxa, essa eu não vou nem comentar… O que me deixa mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira. Para finalizar tiro minha conclusão:

O brasileiro merece!
Como diz o ditado popular, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar. Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse texto, meus sentimentos amigo, continue fazendo sua parte, e que um dia pessoas de bem assumam o controle do país novamente. Aí sim, teremos todas as chances de ser a maior potência do planeta. Afinal, aqui não tem terremoto, tsunami nem furacão. Temos petróleo, álcool, biodiesel e, sem dúvida nenhuma, o mais importante: Água doce!

Só falta boa vontade, será que é tão difícil assim?

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

Ver comentários

  • Muito bom. Quem realmente escreveu esse texto, deveria ter assumido colocando seu verdaderio nome, não parece mesmo com as crônicas do Jabor, mas ficou bem esquematizada. Gostei quando ele fala que o brasileiro é preguiçoso, é a mais pura verdade, vê-se logo pela paixão que o brasileiro tem por feriados, e a necessidade de que seja prolongados. Interessante que vivem reclamando do desemprego, mas ao estarem empregados vivem querendo folgar. Minha esposa trabalha em um hospital e ela diz que segunda-feira é o pior dia da semana, é o dia em que "aparecem mais doentes", a maioria em busca de um comprovante para poder faltar no trabalho. É uma lástima.

  • Povo alegre. Ironicamente, essa afirmação dá vontade de chorar. Povo bobo de fato. Um avião cai, centenas morrem, mas as vozes que se escutam não são as de lemento e de protesto, mas as de aplauso pelos times brasileiros que estão arrecadando medalhas nos jogos panamericanos. Bom, eu sou total inimigo destes jogos organizados, mas não sou contra quem gosta, nem sou contra que o país participe dos mesmos, mas sou contra esse total descazo do povo brasileiro que enaltece o entretenimento em sacrificio de sua própria realidade social, deveras deplorável.

  • Sem dúvida nenhuma, quem escreveu essa bobagem deve ser um brasileiro cego... Somos um povo pobre em todos os sentidos porque assim desejamos. Como o amigo Emerson disse acima, uma avião se arrebenta, mata centenas de pessoas e tudo volta a funcionar normalmente... Viva o PAN, viva a merda em que vivemos porque não fazemos porra nenhuma...

  • Escrevi besteira...rs... Li rapidamente o texto e acabei fazendo um comentário errado... Na primeira linha eu quis dizer - ...quem escreveu tudo isso deve ser alguém, que, como todo brasileiro, esta revoltado e não faz nada para mudar... Inclusive, usando a assinatura de outra pessoa que prova que o jeitinho brasileiro esta empregnado em nosso cotidiano...rs

  • Não importa se foi o Jabor o titular do artigo, pois além de descrever a "pura verdade brasileira", sem dúvida deixa claro que não há qualquer instrumento no Brasil para mudar esta atual situação. Faltou somente deixar claro que o povo brasileiro tem torcido para os políticos como se torçe para um time de futebol, esquecendo, é claro, que os políticos são os responsáveis DIRETOS de toda má organização de nossa nação enquanto o futebol, bom, isto é como religião, não se discute, cada qual torce por sua paixão.

  • Muito bem. Também recebi o texto hoje de manhã, e passei para frente por ter gostado, porém coloquei uma observação de que dizem que o texto é do Jabor, mas a internet não é muito confiável, nunca dá pra saber. Logo recebi uma resposta de alguém que ouviu na CBN que este texto estava circulando e NÃO É do Arnaldo Jabor. É um absurdo as pessoas se apropriarem de texto dos outros assinando como seus, ou o contrário, atribuir um texto a alguém famoso, quando não é.

  • Este texto definitivamente não é do Sr. Arnaldo Jabor.
    É grotesco e de péssimo gosto. Tem pelo monos uma dezena de erros gramaticais.
    S.Gimenes

  • Esse texto é tosco. Ele reflete o pensamento medíocre da crescente classe média que, ilhada pelo que vê no Fantástico e lê na Veja (e por isso pensam que são as pessoas bem informadas), acredita que toda essa generalização de frases prontas e de efeito do texto são a "pura verdade brasileira".
    Ah, e pelo linguajar chulo e pelos erros, com certeza, o texto NÃO É do Jabor. Apesar de não ser fã do cara, uma coisa é certa: o Jabor sabe escrever.

  • Concordo com alguns pontos, mas este texto NÃO É do Arnaldo Jabor e qualquer pessoa acostumada com sua refinada verve crítica o identificaria de imediato. Um dos dramas da internet é que qualquer desclassificado (a) pode sair propagando o que bem entender aos quatro ventos, atribuindo autoria a quem quiser. Sejam mais perspicazes com relação ao que lêem na rede. Para ouvir o que o próprio Jabor disse sobre este embuste direto do site da CBN, clique: http://cbn.globoradio.globo.com/cbn/wma/asx.asp?audio=2007/colunas/jabor_070802.wma

    Versadus

  • Como eu escrevi no post, duvidei da veracidade desse texto e fui à caça do autor. Logo de cara percebi que não era do Jabor justamente por causa do estilo de escrita e de inúmeros erros de gramática e concordância (o que também relatei no post).

    Seja quem for o verdadeiro autor, a atitude de atribuir o texto ao Jabor é totalmente condenável. Por outro lado, o conteúdo do texto não é de todo ruim. E, desculpem-me, mas criticar a "classe média", as "elites", a "Veja", a "Globo", etc., etc., etc, por causa disso, é mostrar infinitamente menos capacidade de argumentação do que aqueles a quem se atribuiu tal erro.

    O texto é bem fraquinho, concordo, mas também não é mentiroso. Ao contrário, alfineta exatamente quem deve alfinetar. Atribuir isso "à alienação das elites" é dar exemplo de mais alienação ainda.

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Publicado por
Emilio Calil
Tags: Política

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