Categorias: Cotidiano

Vai Juventus!

Ano de Copa do Mundo. E também de eleições. Quem criou o famoso ditado popular “”desgraça pouca é bobagem”” devia ter em mente anos como este. Detesto futebol. E detesto política. Ou melhor, de política até gosto, não gosto é de políticos. Mas futebol não tem jeito.

Na verdade, nada tenho contra o esporte em si. O problema é toda essa euforia sem sentido dos brasileiros em torno do futebol, como se cada partida de um campeonato fosse questão de vida ou morte para milhões de acéfalos -– e em alguns casos, acaba sendo mesmo.

Ora, que é o futebol se não vinte e dois jogadores correndo noventa minutos atrás de uma bola que, em última análise, é mais inteligente do que eles? Nunca me interessei por isso, nem quando criança. E não foi por falta de incentivo. Meu pai costumava jogar, todos os domingos, em campos localizados na região do Itaim Bibi. E sempre levava a mim e a meus irmãos com ele. Hoje o nome de alguns desses campos evoca certa nostalgia, sendo que Itororó e Clube do Mé são os mais fortes em minha lembrança. Este último, por sinal, sofrera uma matreira pichação nossa -– se é que podemos chamar assim alguns rabiscos de giz de cera -– e seu nome pintado na parede foi rebatizado para “Clube do Mélda”. Coisas de moleque.

As lembranças que tenho daquelas manhãs de domingo não se relacionam ao futebol, mas a aventuras desbravando trilhas no mato, piqueniques, escalando morros, fugindo de cachorros e assistindo a campeonatos de motocross numa pista ali perto. Com o tempo, troquei aquilo por Transformers, Thundercats e Superamigos na tevê. Os videogames viriam muito tempo depois.

Mas falava de futebol. Mesmo crescendo nesse meio, meu interesse no assunto é nulo. E por isso não entendo esse sentimento exacerbado dos torcedores, que riem, choram, gritam, xingam, brigam e se desesperam a troco de nada. Fora as filas quilométricas para comprar ingressos –- alguns faltam ao trabalho ou pedem demissão para assistir a um jogo. A mídia, cúmplice dessa patacoada, tira proveito e enaltece esse comportamento, passando a sensação de que o jogo é mais importante do que qualquer coisa na vida. Empregassem os imbecis toda essa energia em algo útil, estaríamos entre as grandes potências do planeta.

E acho que é daí que vem meu desgosto pelo futebol. Esse esporte se tornou uma poderosa barreira contra nossa evolução. Eu poderia nutrir maior interesse ou até ir a estádios se o futebol fosse encarado como aquilo que realmente é: apenas um jogo. Para mim, essa história de paixão por times é pura falta de cultura de quem não tem capacidade de se apaixonar por assuntos mais nobres. Nas Copas do Mundo, sempre torço contra o Brasil, para que perca logo e impeça o agito de bandeiras e sopro de cornetas o quanto antes.

Outro problema que o futebol cria para mim é a falta de assunto. Ao almoçar com colegas, é fácil falar de tecnologia, filmes, livros, viagens, etc. Mas quando caem no futebol, só resta me calar. Sequer sei a diferença de um zagueiro para um meio-de-campo, então não consigo manter conversa. Mas para isso encontrei a solução. Tenho prestado atenção nas conversas alheias sobre o tema e acabo decorando uma ou outra frase de impacto que denote forte opinião sobre o assunto. Pronto, basta encaixar essas frases no momento certo e obtenho uma conversa animada. Eu não faço a mínima ideia do que estou falando, mas acredito que meus interlocutores também não.

Dia desses, entretanto, acordei diferente. Não sei bem por que razão, decidi que eu precisava de um time para torcer. Mas não queria nenhum desses grandes nomes. Então lembrei que meu bairro tem seu próprio time – o Juventus – e até um estádio homônimo. Fui atrás de maiores informações e descobri que o time é péssimo, não ganha jogo algum e vive nas divisões mais baixas. Ora, pensei, é esse mesmo! Se quiser torcer pra algum time, ainda que por brincadeira, que seja um time ruim, sem destaque e que não cause decepções, uma vez que a expectativa é a de derrota. Decepcionado ficarei se ele passar a ganhar os jogos. Aí serei obrigado a abandoná-lo.

Hoje, se me perguntam para qual time eu torço, respondo com um grande sorriso: Juventus! As pessoas me olham de lado, curiosas, como se eu tivesse dito que acabei de chegar de Marte. O que me deixa a sensação de que estou no caminho certo.

Vai Juventus!

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

Ver comentários

  • Pois é Emílio, tua história parece a minha. Meu nome por exemplo deve-se ao fato do goleiro da copa no ano em que nasci chamar-se Emerson, era o Emerson Leão. Do nome eu gosto, mas do futebol não tenho nenhuma simpatia.

    Meu pai também me levava para assistir jogos num campo próximo de casa, nem sei o nome do campo, nem sei se tinha nome. Lembro que gostava de ir, mas isso é porque criança adora qualquer passeio. Se é pra sair de casa então tá bom.

    Cresci detestanto o futebol e na cola vai o carnaval. Duas coisas imbecilizantes. É lógico que não é o caso da maioria. Conheço pessoas que são amantes de esporte, mas de esporte de uma forma geral, ou de esporte pelo esporte. Mas a maioria está mais para celerados nos estádios ou no sofá de casa.

  • Bem, isso cai no gosto particular de cada um. Futebol não é só adorado no Brasil. A Europa também é bem fanática e todos lá possuem "sangue azul",rs!
    Não dá para crucificarmos pessoas inteligentes que também gostam de futebol ou outro esporte.
    Entende que é mais questão de gosto e não de nobreza?
    Achei desnecessário e preconceituoso.
    Tudo em demasia enche o saco, inclusive falar mal do carnaval, futebol e o kit completo, que todos nós já sabemos.
    E que gosta de política, bom sujeito não é!rs
    Somente ironizando o contexto.

    Grande abraço

  • Seja bem-vindo ao mundo do futebol, meu amigo! Junto com o Juventus, o Guarani de Camaquã, Sapucaiense e Glória de Vacaria agradecem tua torcida! :-)

    Abração!

  • Concordo plenamente com você Emilio e Emerson. Futebol, assim como vários outros esportes são uma verdadeira imbecilidade. Eu não consigo entender como as pessoas perdem seu tempo gritando, "torcendo", chorando, comemorando... Alias, quando um time ganha, o que o torcedor recebe? E quando perde? O que o torcedor deixa de ganhar? Pelamor... Como diria meu camarada...

    Por sorte meu avô, quando chegou da Polônia não entendeu do que se tratava este esporte escroto e passou isso pro meu pai. Como não poderia deixar de ser, também não gosto e espero passar isso para a próxima geração.

    Maldito seja, caro Charles Miller...

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Emilio Calil

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