Na rua João Ramalho, próximo à agência onde trabalhei até o início de 2011, há um pequeno café de esquina. Era nosso point das tardes. Lá pelas 16h ou 17h corríamos lá para um cafezinho, doces e bate-papo. O lugar foi batizado de ‘Tia Rica’ devido aos altos preços que cobrava. Trocou de dono há algum tempo, os preços melhoraram um pouco, mas o apelido continuou – confesso que nem lembro o nome real do lugar.

As atendentes garantiam momentos de humor com comentários pitorescos sobre o cotidiano. E eram honestas a ponto de dizer: “Ih, não pega esse quindim, está aí há dias. Mas a torta de limão é de hoje”. Um atendimento que faz diferença e garante nosso retorno quase diário.

Limítrofe ao café, foi aberto um estacionamento. Estacionamento é exagero. É um corredor estreito, onde cabem uns dez carros na diagonal. Virou moda na região estacionamentos não possuírem mais vagas para mensalistas – afinal, por que cobrar R$ 100 mensais de um veículo que ficará ocupando espaço de outros que pagam R$ 15 por dia? Esse estacionamento não era diferente. Mas apesar de pequeno, está estrategicamente bem posicionado na rua e chama atenção de muitos que lutam por um espacinho para estacionar.

O manobrista desse estacionamento, entretanto, era um verdadeiro bronco. Não fazia questão de ser gentil, quase não conversava com os clientes e passava a maior parte do dia em pé, braços cruzados, encostado na porta do café da esquina. Soube de pessoas que deixaram o carro com ele e envolveram-se em bate-boca.

Certo dia houve problemas com a internet na empresa e, como meu trabalho dependia cem por cento da web, saí pra tomar café. E lá estava o manobrista-neandertal, feito lagartixa na parede. Enquanto eu estava entretido com minha xícara, um carro parou na esquina. Lá de dentro uma mulher olhou para o manobrista e perguntou: “Olá, vocês têm vagas para mensalistas?”. Ele, sem mover a cabeça nem descruzar os braços ou tirar o pé da parede, resmungou: “Só diária”. A mulher do carro quase se desculpou por ter feito a pergunta e foi embora. Uma das atendentes do café brincou: “Que horror, hein? Vai ser grosso assim lá longe! Custava ser gentil com a mulher? Mas nem um sorriso?”.

Ele respondeu: “Sou pago pra manobrar carros, não pra sorrir”. Engraçado como uma simples parede separava dois estabelecimentos com atendimentos tão distintos. Eu já comentei antes aqui sobre pessoas que fazem somente aquilo pelo qual são pagas pra fazer, mas às vezes até eu me espanto.

Qual será o valor a ser acrescido no salário do sujeito para que ele mostre os dentes além de manobrar carros?

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

Ver comentários

  • limítrofe
    li.mí.tro.fe
    adj (lat limitrophu) 1 Contíguo à fronteira de uma região. 2 Que serve de limite comum.

    Bom, gostei, aprendi mais uma palavra.

  • HAhahah,essa foi a melhor...hahahaha,

    Mas meu esse lance de gente que so faz pelo que 'e paga tme em todo lugar, aqui na empresa ta cheio tambem,sem criatividade nenhuma,so trabalham pra fazer uma unica coisa e se pede algo diferente nao tem capacidade mental pra fazer.
    Azr o deles sorte da gente....heheeheh.

  • Um sorriso sempre puxa outro. As pessoas que sempre estão de mal com a vida não sabem realmente o valor de um sorriso, senão cobrariam caro por sorrir, por ser gentil, por ser agradável. Realmente isso não tem a menor importãncia em suas vidas inúteis.

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Emilio Calil

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