Terminei de ler já há algum tempo o livro (que ganhei da minha esposa) Nos Bastidores da Nintendo (Super Mario: How Nintendo Conquered America no original em inglês), escrito pelo radialista e jornalista de games Jeff Ryan, e publicado pela Editora Saraiva. É leitura mais do que recomendada não apenas para quem gosta de videogames, mas para quem se interessa por estratégias, ações de marketing e pelos bastidores do lado corporativo do entretenimento.
Nutro profunda admiração por empresas que revolucionaram o mundo com criatividade e inovação. E a Nintendo é, sem dúvida, uma delas. Fã incondicional de seus produtos e de tudo o que eles representaram nessas últimas três décadas, não tive como não voltar a ser criança ao ler esse livro.
E Jeff Ryan também não esconde sua paixão pela Nintendo, em especial pelo seu ícone máximo, Super Mario – o livro é praticamente uma biografia do personagem. Ryan consegue situar o leitor muito bem nas épocas em que descreve o cenário socioeconômico das décadas de 1980, 1990 e 2000. Do início complicado e quase beirando a falência ao tentar ingressar no mercado norte-americano até se tornar uma superpotência do entretenimento digital, a história da Nintendo é fascinante e, como em toda história de sucesso, repleta de reviravoltas, decisões erradas, estratégias repensadas e acertos inacreditáveis.
Para quem vivenciou grande parte desses acontecimentos, chega a ser mágico acompanhar a criação de Mario por um então jovem e despretensioso Shigeru Miyamoto, que, meio que por acaso, reuniu em seu personagem características marcantes de muitos sucessos do entretenimento, como Mickey Mouse de Walt Disney. Aliás, em determinando momento o bigodudo encanador italiano chegou a superar o camundongo em valor de marketing e reconhecimento mundial.
No livro acompanhamos o reinado absoluto da Nintendo no mercado de consoles domésticos com o saudoso NES (ou Nintendinho, como ficou conhecido aqui no Brasil) até iniciar sua briga com a Sega, que surgia para ameaçar o monopólio da ‘Big N, passando pelos jogos, novas empresas e consoles que surgiram no decorrer dos anos. Processos judiciais, acusações de plágio, acordos comerciais inaceitáveis e muita pressão permeiam a história e fazem o leitor entender melhor muitas decisões tomadas ao longo dos anos.
O livro abrange a história da Nintendo iniciando com máquinas de fliperama no Japão até a criação do Wii, o que oferece um material relativamente atual. Ryan detalha muito a era dos 8-bits (NES versus Master System) e, a partir do surgimento da era dos 16-bits (Super Nintendo versus Mega Drive), a leitura parece acelerar um pouco, passando quase batido por alguns acontecimentos. Claro, os fatos mais importantes são explicados, como o caso do PlayStation ter nascido de um acordo rompido entre Sony e Nintendo (ou você achava que a semelhança entre os controles do Super NES e do PSOne eram coincidência?).
O que mais me fascina na história da Nintendo é sua obsessão não por gráficos perfeitos ou por consoles que são a última palavra em tecnologia de ponta, mas pela criação de bons jogos que independam desses fatores – um conceito do qual partilho completamente.
Enfim, leia o livro, você não vai se arrepender.
Nem tudo é perfeito
Minha única ressalva com o livro fica apenas para a tradução, que, honestamente, ficou muito aquém do aceitável. O tradutor, embora pareça dominar boa parte do assunto, dá umas derrapadas fenomenais como, por exemplo, traduzir literalmente “stage” por “palco”, ignorando décadas de cultura em que essa tradução já se firmou como “estágio” ou “fase” de um jogo. Alguns erros grosseiros de gramática também aparecem aqui e ali, evidenciando uma falta de cuidado com a obra, que obviamente passou (se é que passou) por uma revisão às pressas para acelerar seu lançamento.
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