Categorias: Cotidiano

A barbárie do Primeiro Mundo

Entre uma braçada e outra na piscina de um sítio no interior de São Paulo, onde estive no fim de semana, ouvi uma conversa interessante.

Duas amigas batiam papo. Falavam da Europa. Uma, que tinha passado uns dias por lá, contava à outra suas experiências sobre o Velho Mundo. Como que boiando a esmo na água, aproximei-me para ouvir melhor.

“É tudo muito limpo e organizado”, dizia. “Em Paris, não existe fila nem aglomeração para se entrar nos lugares. As pessoas são muito educadas”. Entretanto, como que querendo mostrar que nem tudo é perfeito, acrescentou: “Mas eu senti falta do sentimento de solidariedade inerente aos brasileiros”.

“Como assim?”, perguntou a amiga. E ela respondeu: “Ah, eu andava pra cima e pra baixo com minhas malas – quase 20 quilos de bagagens – e não houve viv’alma que me ajudasse a carregá-las quando precisava entrar no metrô”, dizia indignada.

“Em Milão não foi diferente”, continuou. “Tive que subir uma longa escadaria com as malas e as pessoas me olhavam sem sequer oferecer ajuda”. E de repente acrescentou: “Mas quando fui atravessar a rua, bastou que pusesse o pé na faixa de pedestre para que os carros parassem, mesmo com o farol aberto para eles”. Mas terminou dizendo: “Ainda assim, nada como o brasileiro para ajudar os outros”.

Pensei em me intrometer na conversa, mas o dia estava agradável demais para estragá-lo, então achei melhor nadar para o outro lado da piscina. Onde já se viu não se aglomerar para entrar em algum lugar? Como as pessoas não ousam sujar as ruas? Pra que parar o carro para que o pedestre atravesse? E quanto a ajudar a carregar as malas, bem, não sei em que lugar do Brasil a moça vive, mas aqui em São Paulo além de não te ajudarem a entrar no metrô, é capaz ainda de roubarem suas malas.

De fato, nada como a educação do brasileiro para servir de exemplo de civilidade aos bárbaros europeus.

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

Ver comentários

  • Nossa "sentimento de solidariedade inerente aos brasileiros"... raramente vejo isso, quase não existe. Acho que essa menina não mora no Brasil, acho que o Brasil a que ela se referiu deve seu outro planeta com o mesmo nome.

  • Hoje presenciei de novo a aglomeração dos usuários de metro em busca do "assento sagrado", e ainda ouvi de uma pessoa "tem dias que a gente nem consegue ir sentado", essa devia ser uma das campeâs da corrida, bom, pelo menos estão praticando algum esporte.

  • Meus colegas que me desculpem, mas não concordo com suas opiniões. Concordo que nos falta civilidade, mas também nos falta infraestrutura, nos falta ensino fundamental, nos falta planejamento familiar, nos falta transporte público decente, que permita a todo trabalhador um retorno confortável para casa. Mas ao contrário do que foi dito, não nos falta amor. Temos sim sentimento de solidariedade, e ao contrário do que se vê nos exterior, temos mais respeito por aqueles que nos visitam do que o respeito que nos é dado quanto estamos fora de nosso país. Nos esforçamos para entender e falar a lingua estrangeira (ainda que seja através de um péssimo portunhol), quando o que seria mais óbvio seria quem nos vista tentar entender nossa lingua. Suas opiniões estão eivadas pelo sentimento de quem vive em uma Metrópole como São Paulo, o Brasil não é um final de dia na fila do metrô. Temos amor por nossos amigos, acolhemos quem nos visita como se fossem velhos conhecidos, gostamos de falar alto, gostamos de nos reunir, nem que seja para ver o "homem da cobra" que faz suas apresentações no Vale do Anhagabaú, gostamos do contato físico, nos cumprimentamos dando abraços, beijos ...

  • ... não somente um, mas dois, até três. Gostaria que meus colegas conhecessem o Brasil por inteiro, tivessem a experiência de sentar na porta de casa para bater papo ao final da tarde, como se faz no interior, e não precisa ser tão longe, basta sair um pouco de São Paulo, conhecer a fala mansa do povo Mineiro, a vivacidade do povo Carioca, a firmeza do povo do Sul, ou o calor humano incomparável do povo do Norte e Nordeste. Isso não se vê em qualquer outra parte do mundo. Não é à toá que todo o estrangeiro que tem a oportunidade de morar no Brasil diz que esta é a melhor terra do mundo. Mais do que pela civilidade, o homem sobrevive pela paixão, pelo amor, pelo companheirismo. Para concluir: Civilidade se aprende (e temos muito que aprender), mas Amor e Solidariedade é algo que não está escrito nas cartilhas de Educação Moral e Civil (que antigo!) Abraço a todos.

  • Ah, ia me esquecendo. Quanto à amiga que contava sobre a Europa, não se trata de uma observação sobre a Barbárie Européia, mas da simples falta de solidariedade.

    Abraço.

  • Miguel, bem-vindo ao blog! Gostei muito das suas colocações! E são muito pertinentes. É fato que o brasileiro é sim um povo acolhedor e solidário, como a maioria dos latinos. Mas não se pode negar que falta-nos a civilidade do Primeiro Mundo. Não é necessário ser frio e indiferente como os franceses para não se jogar lixo no chão ou parar o carro quando um pedestre atravessa a rua. É questão de educação, mesmo. E isso vem de berço - independente do grau de ensino da pessoa.

    Talvez eu tenha sido um pouco maniqueísta neste texto. Mas se o fiz, foi para mostrar que poderíamos ser uma grande nação mudando coisas simples e básicas em nós mesmos, sem esperar que alguém o faça por nós. Espero que não me leve a mal, não houve intenção de ofender ninguém.

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Emilio Calil

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