A tampa do ralo

postado em: Cotidiano 1

Último post de 2008. Cogitei escrever crônica com retrospectiva do ano ou coisa parecida, mas desisti. Entra ano, sai ano e, analisando friamente, nada de novo ocorre sobre a Terra. Com 2008 não foi diferente.

“Ah, mas tivemos a eleição do Obama, a crise econômica mundial, as guerras no Oriente Médio, as catástrofes em Santa Catarina e as mortes da Eloá e da Isabella”, dirá o leitor inconformado. Sim, e daí? Eleições acontecem no mundo todo e, a exemplo de Obama, quase nunca os eleitos são escolhas inteligentes. Guerras existem e existirão, seja no Oriente Médio ou entre vizinhos – está na natureza humana o anseio pela autodestruição. A crise, mais tempo menos tempo passa e volta a bonança (até a próxima crise). Catástrofes naturais continuarão ocorrendo – aqui ou em outras plagas – e não há muito o que se possa fazer a não ser juntar os cacos e começar de novo. Mortes de crianças e inocentes ocorrem aos montes, de formas até mais brutais do que as que viraram assunto para jornalistas com falta de pauta. Não que eu não me sensibilize com tudo isso, mas basta erguer o pescoço um pouquinho para perceber que esses não são casos isolados.

Ora, crise por crise, catástrofe por catástrofe, morte por morte, tive um pouquinho disso tudo em minha vida particular. Como também tiveram, imagino, muitos dos leitores do blog. Perdas e ganhos, alegrias e tristezas, basta estar vivo para fazer parte desse jogo. Cada um carrega sua ‘roda do samsara’ pessoal.

A meu ver, não acho que o mundo está melhorando ou que vá melhorar. Não enxergo a menor hipótese de termos um futuro brilhante, com união dos povos e fim de muitos problemas. E nem vou comentar as teses que falam da chegada de espaçonaves extraterrestres que ajudarão a humanidade a entrar na era de aquário.

O que percebo, na verdade, é a acelerada ascensão da futilidade. A glorificação da inutilidade e da hipocrisia, abafando vozes que realmente mereciam ser ouvidas. Rumamos aos tropeções a um futuro de incertezas, cada vez mais turvo e problemático, com os dias se abreviando. É como se tivessem puxado a tampa do ralo de uma pia – quanto mais perto do buraco, mais rápidas e confusas ficam as coisas.

Ainda assim – ou apesar de tudo isso –, gostaria de desejar um ótimo 2009 a todos vocês. “Contradição!” – gritarão alguns. “Como podes pintar um futuro tão negro e terrível e ousar desejar bom ano novo?”. Fácil! Meu desejo de que o ano de 2009 seja formidável é sincero e independe de minhas soturnas previsões. Além disso, sempre haverá aquele que ri quando todo o resto chora. Por que não posso desejar que esse alguém seja você?

A não conformidade com a situação impele muitas pessoas a buscar algo melhor. Mesmo que as trevas prevaleçam na maior parte do mundo, é a luz da esperança – essa pequena centelha divina que brilha nos corações de muitos (mas não de todos) – que mostrará o caminho a ser trilhado. Para esses, independente da situação em que se encontram, um dia é sempre melhor do que o outro. E para esses é que vão meus mais sinceros votos de excelente ano novo, pois sei que terão.

Nos vemos no ótimo 2009.

Seguir Emilio Calil:
Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.
Últimos Posts de

  1. Emerson Freire
    | Responder

    Feliz 2009 para você também meu amigo, sei que és uma dessas pessoas que tem guardada aquela centelha de esperança, a única coisa que nos move e não nos deixa submergir nesse mar tempestuoso.

    Fique com Deus, muita paz, saúde e sucesso.

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