O brasileiro e a política

postado em: Cotidiano 4

Comentei outro dia o fato de ter poucos amigos com quem ainda gosto de debater política. Mas o resultado das eleições presidenciais atentou-me para o fato de que o problema não são as poucas pessoas que falam de política, e sim a quase totalidade de brasileiros que simplesmente não se interessa pelo tema.

Basta tocar no assunto numa rodinha de amigos e você acaba falando sozinho. É sempre a mesma resposta: “Ah, detesto política”. Ora, de política não se gosta ou desgosta. É algo que deve estar intrínseco no entendimento, pois é a política que faz o país andar (para frente ou para trás). É a política que determina nossa condição socioeconômica atual e futura. É a política que influencia nos preços dos produtos, na importação e exportação, no mercado de trabalho, na saúde, na segurança, na educação, no financiamento de imóveis, etc.

Não basta dizer “odeio política” – é como matemática, você pode não gostar, mas precisa dela no dia-a-dia. É fundamental ter um mínimo de conhecimento do tema para entender o país (e o mundo) em que se vive. Pelo menos saber a diferença entre ideologias, as funções de cada governante, analisar propostas, etc. Enfim, entender como funciona a máquina para saber se alguma peça precisa ser trocada.

A falta de interesse do brasileiro pela política resulta em desastres dos quais ele próprio reclama depois. E isso está atrelado ao desinteresse pela leitura. Brasileiro não lê. Ponto. Não me venham com pesquisas mostrando que brasileiros andam lendo mais ou com o número de visitantes das bienais do livro. Basta erguer os olhos para notar que falta de leitura é doença crônica. Quem lê – e falo de boa leitura – é exceção. Vez ou outra se vê alguém portando bom livro no metrô ou num café. Mas a maioria, quando resolve ler, rende-se aos ‘fast-foods’ de Dan Brown ou Stephenie Meyer e se pretendem cultos.

Em decorrência da falta de leitura, o brasileiro passa longe da política, pois é literatura que exige do cérebro esforço além de soma e subtração. Pela preguiça de pensar, o brasileiro delega a outrem essa tarefa. Espera que os governantes pensem por ele e façam as melhores escolhas – o que jamais acontece. Já dizia Platão: “A desgraça de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta”. É triste ver que os maiores interessados por política no país são universitários que mal largaram as fraldas e criticam o ‘sistema’ após lavagem cerebral de seus professores comunistas. Como algo de bom pode sair de uma mente jovem doutrinada por amantes de regimes fracassados e ditatoriais, a exemplo de Marilena Chauí? A mulher fala abertamente que deseja ver o Brasil rumando para o socialismo e não há uma voz que a conteste. Ao contrário, está cercada por imbecis que a aplaudem.

O resultado desse estrago mental nota-se nas recorrentes greves na USP, que se tornam uma festa ‘rave’ no campus. Gritam palavras de ordem, esbravejam, destroem propriedade alheia, fazem uma baderna geral e em momento algum se preocupam com política. Passam os anos e alguns deles se candidatam a cargos públicos e seguirão vidas de falcatrua, roubando o erário como se fosse a coisa mais normal do mundo. Se forem pegos, ao contrário de punição, receberão o mais completo apoio para mostrarem sua ‘honestidade’. Salvo meia-dúzia de gatos pingados, jornalista algum tem coragem de contestar ou desmentir políticos.

Entendesse o brasileiro de política, não teríamos visto o patético debate de Dilma e Serra, onde esta acusava o adversário de querer privatizar a Petrobras e ele, temeroso, jurava de pés juntos que jamais faria tal coisa. Ora, há milhares de brasileiros que sequer sabem o que significa “privatizar”. Acreditam que é algo ruim porque as esquerdas batem nessa ideia como martelo no prego. Tivessem a mínima noção do que isso significa, muitos implorariam para que a Petrobras fosse privatizada. Comparem o lucro e número de funcionários da Vale do Rio Doce (hoje apenas Vale) da época em que era estatal para hoje, privatizada. A diferença é tão grande que torna ridículo qualquer discurso contra privatização. Aliás, gostaria que alguém me provasse qual a vantagem da Petrobras ser uma estatal. Que vantagem há em dizer que o “petróleo é nosso”? Nosso coisa nenhuma, ele pertence à oligarquia monopolista de políticos que se beneficiam da incultura do povo.

Entendesse o mínimo de política, o brasileiro repudiaria ter que escolher entre PT e PSDB como opções de governo. E mais, Lula nunca teria sido eleito.

Há quem nutra esperança de melhora. De um país com futuro brilhante, uma potência mundial a fazer frente à China e aos EUA. Não é o meu caso. Na melhor das hipóteses, creio que passaremos as décadas vindouras envergonhados diante do mundo. E na pior das hipóteses, não gostaria de estar mais por aqui.

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Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.
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4 Responses

  1. telma calil
    | Responder

    Estamos mal de líderes estudantis [do Oiapoque ao Chaui].Uma pessoa cheia de bolôr , não sei como os alérgicos não espirram na presença dela , essa Marilena .E quanto à Democracia ,é mais ou menos ;pois pelo que me consta deve haver sim , oposição ; e o que estamos vendo , é um mêdo de escancarar essa série de escândalos políticos , penso eu , pelo telhado de vidro , que possa possuir quem atira pedras .Poderíamos esbravejar,lutar , se o universo da mídia a soldo , não reagisse prontamente , para desmentir e agasalhar quem lhes paga as contas no fim do mês .Mas o comodismo nos faz delegar aos abutres nossa carcaça , quase sem reação.Estamos hipnotizados .Não sei aonde vamos chegar , mas sei que não vai ser por nossas próprias pernas . Somos carregados pela multidão ,pisoteados , e ainda temos que participar de um banquete ao qual não fazemos parte ,comendo o que de pior nos é atirado .Haja digestão …

  2. Emerson
    | Responder

    É isso mesmo. Eu, embora não me sinta atraído por política, sei de sua relevancia, que está para além de mera importancia trivial. É imprescindível que nos atenhamos para tais assuntos. Tal fosse e não assistiríamos episódios como a candidatura de Tiririca, ou como de anos atrás a de Clodovil, e não engoliriamos os discursos demagógicos de quem quer que fosse com tanta facilidade como acontece agora.
    Infelizmente a massa popular está embasbacada com imbróglios midiáticos. Deleitam-se com as Fazendas da tv ou perdem seu tempo no exercício da Colheita Feliz de sites de relacionamento. Estão na caverna e contentam-se com as sombras que desfilam, impávidas, diante de olhos esbugalhados, expressando toda a boçalidade de suas precárias ligações sinápticas. Como é doce a ignorância. A verdade liberta, mas de que vale a liberdade quando os grilhões são de ceda?

  3. Roberto - Editora Quantum
    | Responder

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  4. KGN
    | Responder

    Ótimo texto. Realmente traz à tona a importância da política no cotidiano das pessoas (e o faz sem hipocrisia, diga-se de passagem)
    Mas, por favor, nunca mais compare Dan Brown a Stephenie Meyer. Eu sei que ambos são literatura para “as massas” / “de entretenimento pelo entretenimento”, mas é um pecado colocá-los no mesmo patamar. Entendi o seu ponto, mas mesmo assim não foi um bom exemplo (refiro-me a Dan Brown, é claro,, por que a Meyer é realmente fraca).
    E antes que alguém diga… não. Não estou defendendo o Dan Brown só por que li todos os seus livros. Também já li Shakespeare, Poe, Hemingway, Vonnegut, Dostoevsky, Asimov, Tolkien, Dumas, etc. É óbvio que o Brown não chega nem perto desses que citei, mas daí a colocá-lo junto da autora do lixo que é Crepúsculo foi demais, hehe.

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