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Dicas de como escrever melhor

Um amigo me perguntou certa vez: “Você escreve bem, o que eu preciso fazer para conseguir escrever como você”? Bem, não há resposta correta para essa pergunta, pois saliento que estou longe de escrever bem. Tenho, de fato, procurado melhorar com o tempo e o blog é ótimo exercício, mas relendo meus textos percebo inconsistências e contradições, às vezes até em crônicas seguidas. Falta muito para manter uma linha de raciocínio coesa e um estilo próprio, constante. Dou muitas derrapadas.

Ainda dentro da pergunta desse amigo, eu diria que se você prestou atenção nas aulas de português na escola e fazia suas redações (aquelas com o tema “Minhas Férias”), no mínimo aprendeu o básico para se expressar corretamente. O resto é evolução com a prática. E se não praticar, não evolui. Além disso, há o fato que considero o mais importante para se escrever bem: ler.

Ler é fundamental. Ler muito e sobre todos os assuntos possíveis. Afinal, se você não lê, como poderá escrever? Fica limitado a um vocabulário de meia-dúzia de palavras e, a bem da verdade, torna-se praticamente um semi-analfabeto. Há quem considere analfabeta a pessoa que não domina ao menos três idiomas. Não deixam de ter sua razão, mas para o momento fiquemos no português. A leitura liberta dos grilhões da barbárie e refina o intelecto, despojando-nos de idéias que só encontram existência em mentes tacanhas. Não que a leitura nos faz mudar de opinião a todo instante (como a ridícula “metamorfose ambulante” do Seixas), pelo contrário, ela pode até reforçar uma opinião já concebida. E mesmo que mude, fará isso com embasamento, comparando idéias e não apenas com ‘achismos’.

Desde pequeno sempre li de tudo. Gostava de ler quadrinhos, almanaques, enciclopédias e alguns livros. Lia por ler e aprendia alguma coisa. Aliada a isso, uma sede por conhecimentos espirituais. Enveredei por leituras de religiões e filosofias. Conheci Sócrates e Platão, flertei com Blavatsky, estudei geometria sagrada, cabala e me diverti com Lobsang Rampa. Não eram leituras que um garoto da minha idade se interessaria, mas lá estava eu devorando-as. Cresci e joguei tudo isso pra trás. Dessa fase ficou apenas um livro que lista entre meus favoritos, de tanto que li e reli: Deuses e Astronautas no Antigo Oriente, de W. Raymond Drake. Ele embarca na sandice sobre deuses da antiguidade serem extraterrestres. A afirmação usa figuras duvidosas, como Adamski, para creditar a tese. Um festival de besteiras sem igual, mas escrito de forma tão apaixonada que recomendo a quem deseja criar roteiros de ficção. Abaixo, a introdução:

Naqueles tempos maravilhosos em que a Terra era jovem e a natureza resplendia de novidade, seres celestiais desceram das estrelas para ensinar as artes da civilização ao homem simples, criando a Idade do Ouro cantada por todos os poetas da antiguidade. Durante séculos a humanidade gozou duma cultura brilhante e prosperou sob o governo benigno dos reis espaciais, que possuíam uma ciência psíquica afinada com as forças do universo e os poderes existentes dentro da alma humana. Esses seres adoravam o Sol, o divino Andrógino, símbolo do Criador; faziam ensinamentos sobre a vida depois da morte, a reencarnação, a ascensão através da existência em diferentes dimensões até a união com Deus. Em ocasiões especiais desciam à Terra e compartilhavam seus arcanos secretos e sua tecnologia com os iniciados eleitos.

Prosseguindo as leituras, fiquei bom tempo preso na ficção, sendo Tolkien e Asimov meus favoritos, seguidos por Stephen King. Li O Senhor dos Anéis umas oito vezes antes que sonhassem em fazer o filme. Depois que chegou às telas, perdi o interesse. A popularização de certas obras literárias rouba-lhes o encanto. Mesmo assim, fossem os ‘hobbits’ introduzidos nas escolas brasileiras, o interesse da molecada por livros seria outro e os poupariam de Jorge Amado. Nesse ponto Harry Potter tem lá seus méritos, apesar de tudo.

Acontece que para efeito de aprimoramento intelectual a ficção tem seus limites. Ela diverte, entretém e até questiona, mas não vai muito longe. Chega um momento em que parece estagnar e você se sente impelido a beber em outras fontes. Já não basta apenas ler, mas ler algo a mais, que acrescente reais conhecimentos. Nada contra a ficção, ainda leio um ou outro livro do gênero, sem falar que Verne, Dickens ou Cervantes são atemporais. Apenas percebi que ficaria preso num círculo se não buscasse novos autores, novos textos e novas idéias. E nessa peregrinação literária é mais do que óbvio que a pessoa adquire mais cultura, enriquece o vocabulário e, se gostar de escrever, aperfeiçoa o estilo. Nem é necessário publicar um livro para mostrar erudição, mas num simples bate-papo ou mesmo em blogs nota-se a diferença.

Ouvi certa vez que se você quer crescer na vida, deve travar contato com pessoas de nível sócio-cultural igual ou superior ao seu. Pode parecer afirmação preconceituosa, mas tem fundamento. Se quiser aprender, busca quem sabe mais do que você. E para falar de igual para igual com essa pessoa, deve ampliar seus conhecimentos. Uma coisa puxa a outra.

Hoje procuro ler sobre os mais variados assuntos. Estou na metade de Infiel, autobiografia de Ayan Hirsi Ali, e já tenho em mira mais dois ou três livros que pretendo comprar, entre eles Cartas Vienenses, compilação dos escritos de Mozart. Fora a leitura no papel, recorro diariamente à web. Gosto de perambular pelos sites dos mais famosos jornais de outros países como o Corriere della Sera, da Itália, o El Pais, da Espanha, e o Le Monde, da França. Não que eu fale espanhol, italiano ou francês, mas alguma coisa dá pra entender. E sempre é bom ler textos em língua estrangeira. Esses três sites, mais a Folha, o Estadão e alguns blogs são parada obrigatória de manhã antes de começar a trabalhar.

Assim, retornando ao primeiro parágrafo e à pergunta desse meu amigo, a única dica que posso oferecer é a de ler cada vez mais, mesmo. De crônicas políticas a poesias; de bula de remédio aos compêndios da Barsa; de histórias em quadrinhos a revistas científicas – tudo é válido. Um povo que não tem apreço pela leitura não pode ser chamado de civilizado e, conseqüentemente, seu país não merece o titulo de nação.

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

Ver comentários

  • Meu amigo Emílio, estava eu aqui na redação a procura de algo para ler e pensei, por que não visitar o blog do meu amigo? Aliás já faz um bom tempo que não apareço por aqui e do nada a idéia surgiu na cabeça. Me deparei com este post e fiquei muito feliz. Percebi que alguns dos nossos papos sempre dão bons textos da sua parte. Este seu post servirá com uma grande lição, e acredite, o que vc disse qdo "ao crescer na vida, deve travar contato com pessoas de nível sócio-cultural igual ao superior ao seu.... " é pura verdade e, fazer parte de um círculo de novas pessoas com intelectos diferentes que não hesitam em ensinar algo sempre, não tem preço! Enfim, a humildade é tudo! Parabéns pelo post e suas dicas serão muito bem executadas!
    Um grande abraço.
    Do seu amigo Claudinei!

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Emilio Calil

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