Da antiga turma, o Tarcísio Salvador (de quem perdi contato há anos) dizia que deveríamos ler de tudo ou seríamos “semimortos”. Ele era um filósofo-intelectual com visual gótico e sempre vinha com assuntos transcendentais. Mas tinha razão se lêssemos apenas quadrinhos porque desejávamos ser desenhistas, estaríamos limitados a um universo insignificante comparado à riqueza de assuntos que o mundo literário oferecia.
Ler enriquece, transforma, liberta. Somente pela leitura o ser humano pode sair da barbárie. Difícil encontrar leitores inveterados que gostem de multidões, barulho e algazarras. A leitura nos torna civilizados. E civilização é silêncio.
Sinto agonia quando não tenho nada para ler. Em casa sempre estou com livro em punho. Geralmente leio dois por vez um no tradicional formato de papel e outro digital, no iPod graças aos e-books ampliei meu volume de leitura.
Não tenho muito respeito por quem não lê ou não gosta de livros. São pessoas limitadas com as quais não dá para manter longos diálogos. Muito diferente de quando conversamos com alguém que lê muito, onde horas de bate-papo sequer são notadas.
E há algumas semanas vi a curiosa notícia de que o hábito de leitura caiu no Brasil. O brasileiro está lendo menos, é o que nos diz uma pesquisa do Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope. O número de leitores caiu de 95,6 milhões (55% da população), em 2007, para 88,2 milhões (50%), em 2011.
De acordo com Marina Carvalho, supervisora da Fundação Educar DPaschoal, uma das razões para a queda no hábito de leitura é a falta de estímulos vindos da família. ”Se em casa as crianças não encontram pais leitores, reforça-se a ideia de que ler é uma obrigação escolar, diz a especialista. As crianças precisam estar expostas aos livros antes mesmo de aprender a ler. Assim, elas criam uma relação afetuosa com as publicações e encontram uma atividade que lhes dá prazer.”
Nisto estou de acordo. Da minha parte comecei a ler cedo, ainda criança. Não só quadrinhos, mas qualquer livro que me caísse em mãos. Tanto na casa dos meus pais quanto na dos meus avós sempre havia livros dando sopa. Mesmo que não compreendesse bem os assuntos, gostava de mergulhar na leitura. Hoje, para mim, ler é tão vital quanto respirar.
Mas não entendo as campanhas de incentivo à leitura. Ou você gosta de ler, ou não gosta. Como incentivar alguém a fazer algo que considera uma tortura? Duvido que alguém mude de opinião por causa de um cartaz dizendo que ler é bom. Não que eu seja contra o incentivo à leitura, só não vejo eficácia nele. Se desde criança a pessoa não gosta de ler, não é de adulta que mudará de ideia ela sempre preferirá futebol e novela a um Herman Melville. Até porque, elevando-se a cultura literária da população, adeus futebol e novela.
Que o leitor do blog não pense que desejo extinguir o futebol. Óbvio que se pode curtir um jogo do seu time e ainda assim ler bons livros mas o esporte deixaria de ser a única forma de entretenimento. Já novelas deviam desaparecer.
Volto ao fato de que o brasileiro está lendo menos. E acho a pesquisa duvidosa, afinal, quando o brasileiro leu mais? Fato que vejo bastante gente com livros no metrô. Mas mesmo esses são minoria ante a massa inculta. E há de se analisar ainda a qualidade do que se lê – de nada adianta aumentar leitores de Paulos Coelhos e Stephenies Meyers da vida.
Eu não tenho nenhuma fórmula mágica para fazer o brasileiro ler (bons) livros. Nunca parei para pensar nisso. Há vários fatores envolvidos. Talvez a saída fosse a grande mídia, principalmente a televisão, iniciar uma campanha massiva com personagens, atores e celebridades sempre recomendando livros. Mas a televisão não faria uma campanha que acabaria prejudicando a si própria. Sem mencionar que celebridades também não conhecem bons livros.
Se os pais não leem e não transmitem o prazer da leitura aos filhos, estes por sua vez não terão o que repassar a seus filhos nisso já temos três gerações avessas a livros. Resta aos professores a tarefa de fazer os alunos se interessarem pela leitura, mas aí esbarramos nos livros que o governo os obriga a ler. E convenhamos que entre certos autores nacionais e o analfabetismo, a escolha é difícil.
Volto à pré-história: Trabalhei em uma locadora de games quando garoto. Fazíamos promoções em que o cliente alugava os jogos num dia, passava o final de semana e pagava uma diária na segunda. Quem atrasasse pagava as diárias extras. Foi o caso de um senhor que, ao me entregar os jogos, cobrei-lhe os dias a mais. Ele questionou o valor e expliquei sobre o atraso. Ele perguntou onde estava escrito que deveria pagar a multa e eu lhe mostrei o papel que ele havia assinado, onde havia o texto explicativo e, também, apontei para um enorme aviso colado na parede com esse mesmo texto. E ele, irritado: “Ah, mas brasileiro não lê“.
E estamos assim há décadas. Quanto menos as pessoas leem, mais arrogantes, manipuláveis e rasas se tornam. Se há uma coisa que todos os livros que li me ensinaram, é que quem lê muito reconhece que não sabe nada; e quem não lê nada acha que sabe muito.
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Parabéns. Ótimo texto, e o assunto em questão muito me agrada.
E concordo com o argumento de que o amor pela leitura começa em casa, com os pais.
Quando criança via meu pai lendo livros, revistas e jornal. Hoje ele não lê tanto, mas a influencia ficou. Fora isso, outro fator importante para o meu gosto pela leitura foi o fato de que minha mãe me ensinou a ler. Não frequentei o "pré". Quando entrei na escola já sabia ler, e sabia contar também. A professora até me pedia para ajudar os alunos com dificuldade, e isso na primeira série (é verdade, não estou inventando).
Quanto ao futebol e novela minha opinião é a mesma. Deveriam ser esquecidos pela humanidade, mas acho difícil isso acontecer, porque a grande maioria gosta do que não presta mesmo.