O trabalho feito pelo veterano jornalista Walter Isaacson é impecável. E, uma vez que o livro escapou dos poderes ultracontroladores de Jobs (ele não interferiu na execução), torna-se uma obra imparcial e autêntica. Não é preciso conhecer muito de tecnologia e nem ser um fã da Apple para apreciar o livro. Devo dizer que fiquei triste quando estava nas últimas páginas. Esse é daqueles livros que você torce para não acabar.
Isaacson nos coloca sempre ao lado de Jobs, como se participássemos de cada reunião de negócios, de cada nova ideia e o mais constante de cada acesso de raiva e descontrole do fundador da Apple. O livro nos dá o melhor e o pior de Jobs, sem dourar a pílula. Há entrevistas com executivos que se envolveram em colossais bate-bocas com Jobs e que não voltaram a falar com ele.
Uma coisa que me fascina quando vejo um bom trabalho não é saber “como a pessoa fez isso” e sim “como ela raciocinou para chegar a esse resultado“. E nesse ponto Isaacson consegue penetrar na mente de Jobs e nos mostrar como ele teve as ideias que levaram à criação do Apple II, do Macintosh, do iPod, iPhone e iPad aliás, fiquei surpreso ao descobrir que o iPad foi criado antes do iPhone, mas ficou ‘engavetado’ por um tempo.
Mas Steve Jobs também era um sujeito insuportável. Não tinha o menor tato ao lidar com as pessoas, ofendia todo mundo e não poucas vezes membros da equipe saíam chorando de reuniões com ele isso quando ele mesmo não chorava nas reuniões para conseguir o que queria. Jobs adotou a filosofia zen-budista para sua vida, mas é curioso notar que ele usou esses conceitos mais em seus produtos do que em si próprio. Isso teve alguns resultados positivos, pois muitos funcionários da Apple disseram que não teriam feito o ‘impossível’ sem a pressão de Jobs mas concluíram que teriam o mesmo resultado sem insultos e explosões de ira.
Steve Jobs também não era tão inteligente. Cometeu muitos erros e muitas das funcionalidades brilhantes dos produtos da Apple não vieram dele. Sua teimosia às vezes custava caro, por isso sua equipe aprendeu a se antecipar e várias vezes faziam exatamente o oposto do que ele pedia (sem que ele soubesse). E no fim provavam que ele estava errado.
Quando Jobs foi demitido da própria Apple pelo corpo diretivo, seu ego estava tão insuportavelmente inflado que não consegui sentir pena foi mais um “bem feito”. Mas seu retorno anos depois, evitando a falência e colocando a Apple de volta no mercado é um dos pontos altos do livro. Claro, nesse intervalo ele nos brindou com a Pixar.
Sua obsessão por design e perfeição era tamanha que, no hospital, já muito debilitado pelo câncer, se recusou a colocar a máscara de oxigênio porque era “muito feia”, e exigiu que lhe mostrassem cinco modelos diferentes para escolher.
Emocionante também é última visita que Bill Gates faz a Jobs, já com a doença bastante avançada, em sua casa. Foram horas de bate-papo em que ambos admitiram que o sistema de negócios de cada um funcionou bem. Uma espécie de conversa reconciliadora.
Steve Jobs não foi o homem mais importante do mundo e nem era infalível. A visão que algumas pessoas têm dele é errônea. Mas também não era um monstro. Foi um visionário apaixonado pela empresa que criou e pelos produtos que desenvolvia. Ele não aceitava a criação de nada enquanto não se sentisse emocionalmente envolvido com o que estivesse fazendo. Era capaz de jogar fora meses de trabalho e recomeçar do zero apenas por causa da cor de um parafuso imperceptível aos consumidores.
Se aprendi algo com esse livro, foi a coragem de analisar os trabalhos que já fiz e pensar: “Isso é um monte de lixo“. E imaginar como um esforço maior e perfeccionista pode ser aplicado em trabalhos futuros.
Todo dia vejo no metrô pessoas lendo a biografia de Steve Jobs. Espero que, mais do que um passatempo, elas possam chegar a essa mesma conclusão que eu cheguei.
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Se puder me informar se ainda existe um bar na Mooca que a entrada se parece com uma vila te agradeço pois não consigo mais achar.
Obrigada.
Deise