Quem me conhece sabe da minha repulsa a livros de autoajuda. Os autores do gênero patinam sobre mesmos assuntos sem chegar a conclusão alguma. Quando um livro desses faz sucesso, na semana seguinte centenas de publicações similares entopem as livrarias oferecendo uma melhor interpretação sobre o que o primeiro livro já em teoria ensinava. Costumo dizer que livros de autoajuda possibilitam obter sucesso, fortuna e felicidade… Para seus próprios autores.
Acreditar que basta olhar no espelho e dizer “eu posso, eu consigo” ou esperar que o “universo conspire a seu favor” é algo que foge ao bom senso. Já disse antes que nada tenho contra a autoajuda em si, mas convenhamos que o universo tem mais o que fazer do que lhe enviar um iate. Esses livros vinculam felicidade a posses materiais. Você só será feliz quando comprar sua Ferrari, ou quando for morar na sua mansão, ou quando conseguir o emprego almejado, ou quando encontrar a pessoa ideal. Impossível levar isso a sério. Conforto financeiro proporciona tranquilidade, mas não livra de doenças, da morte, da decepção, da depressão e, principalmente, da sensação de vazio. Quantas vezes você quis muito uma coisa e, quando conseguiu, ficou desapontado ou percebeu que não era o que imaginava? E o que acontece? Procura-se outra coisa para suprir o vazio deixado pela primeira. Assim, desperdiçamos a vida correndo atrás de ilusões semelhanças com usuários de drogas não são mera coincidência.
Achar que algo ou alguém pode lhe fazer feliz é cair miseravelmente em armadilha das mais ardilosas. Você pode ter momentos felizes possuindo algo ou ao lado de alguém, mas estes nunca serão a razão da felicidade em si. Tudo o que está preso ao tempo, é limitado e tem um fim, não traz felicidade. Aliás, não é esse o fundamento da maioria das religiões?
É por isso que, para escândalo dos meus leitores, gostei de um livro de autoajuda. A obra em questão é O Poder do Agora, de Eckhart Tolle. Um amigo havia recomendado e resolvi dar uma chance ao título para poder criticar depois. Logo nas primeiras páginas quis desistir a mesma patacoada sobre iluminação, encontrar a felicidade, citações religiosas, etc. Nada de diferente do que eu já conhecia. Mas no decorrer dos capítulos a leitura torna-se interessante por contrariar a autoajuda. Tolle se baseia justamente no que eu disse antes, que a busca pela felicidade sempre traz a infelicidade junto, pois é a mesma coisa. Quanto mais você tenta ser feliz, mais infeliz se torna. Mas quando abre mão dessa busca insensata, a felicidade surge. Na verdade o uso da palavra ‘felicidade’ é errado, o correto seria empregar um termo como ‘paz’. Afinal, sempre passaremos por momentos felizes e tristes, e o ideal é que a nossa reação diante deles seja exatamente a mesma, serena e inabalável.
Quando fala sobre o Agora, Tolle deixa explícita a importância de se viver totalmente no presente, ignorando de vez o passado e não pensando no futuro. Sim, eu também estranhei isso. Especialmente porque é com o passado que aprendemos a evitar erros no futuro. Mas faz sentido. Enquanto lembramos os “velhos tempos” (foram bons ou ruins?) e imaginamos o futuro (será melhor ou pior?), esquecemos de que tudo o que temos é o Agora. Nunca houve um passado e jamais haverá um futuro. Nas próprias palavras de Tolle:
“Por que o Agora é a coisa mais importante que existe? Primeiramente, porque é a única coisa. É tudo o que existe. O eterno presente é o espaço dentro do qual se desenvolve toda a nossa vida, o único fator que permanece constante. A vida é agora. Nunca houve uma época em que a nossa vida não fosse agora, nem haverá.”
O fato de não pensar no futuro não significa que não devemos planejá-lo, mas que nossa mente não deve ficar presa em algo que não aconteceu (e pode nem acontecer). Por exemplo, se temos a promessa de fechar um bom negócio e receber uma gorda comissão, não deveríamos perder tempo pensando no que faremos com esse dinheiro ou programar a vida em cima disso, afinal, pode ser que o negócio dê errado e você terá desperdiçado o seu Agora com ilusões. Sem mencionar a decepção ou seja, a busca pela felicidade trouxe infelicidade.
Para Tolle, os dois maiores inimigos da humanidade são o tempo e a mente. O tempo, pelo fato de nos aprisionar na ilusão (existe de fato data e hora?); e a mente por dominar nossas ações diárias baseada no tempo. Tolle enxerga a mente e os pensamentos como ferramentas devem ser usados somente quando necessários e não o tempo todo. Ele fornece explicações interessantes sobre isso, mas aí eu estaria praticamente transcrevendo o livro aqui.
As técnicas para viver no Agora envolvem desde firme observação dos nossos pensamentos até a contemplação de pequenas coisas que passam despercebidas no cotidiano. Imagine quantas topadas na quina da mesa, quantos escorregões em pisos molhados e quantas camisas sujas com ketchup você evitaria se estivesse 100% consciente no momento presente do Agora.
Que mais não seja, é leitura que recomendo a todos os fãs de autoajuda. Uma vez que ele contraria os outros autores do gênero, você não perde tempo e já poupa a si mesmo de outras baboseiras.
Emerson Freire
Muito bom. Não sei se você percebeu mas estás virando um autor de autoajuda, graças as tuas dicas sobre como encontrar a felicidade, combater a procrastinação e coisas do gênero.
Eu também já li bons livros de autoajuda mas que fugiam da fórmula usual desse tipo de literatura. Acho que o problema é que o nome “autoajuda” acaba por rotular tudo e fica difícil distinguir numa livraria o que presta e o que não presta sobre o assunto.
É isso aí, valeu pela dica, o livro vai entrar para minha lista.
Eddu de Souza
Bom texto… e parece ser um bom livro! Mas toda essa inovação do agora eu já li na própria Biblia! Nada de novo nesses livros apenas uma versão nova coisas escritAs a muitos anos atrás. A essência do ser humano continua a mesma… ansiedade com o amanhã, trabalho, como pagarei minhas contas, comida, roupas etc… Porém em épocas diferentes… muito avançada ou pouco avançada a época a essência é a mesma!
Muita gente tem repulsa a coisas escritas na biblia, por toda a mística envolvida, é chato, é contra a modernidade, é coisa de quem não tem o que fazer…etc, não estou querendo fazer apologia a religião alguma… mas é fato que esse conselho de se preocupar apenas com o presente já foi encontrado a muito tempo atrás, lá em Mat 6:25-34!!! Mas claro que estando escrito na biblia, não se dá importancia… e acho que sempre nos livros de auto-ajuda aparecerá algo de religioso… Não lí este livro, mas acho bem interessante a abordagem vou procurar ler!!!
Telma Calil
Excelente texto como sempre. A percepção das coisas que você está fazendo, isto é, sem ligar o piloto automático, eu aprendi na gnose. Observar o aqui e agora sempre. Livros de autoajuda nunca me interessaram. O que passou passou, o que está por vir, virá na hora certa. Procuro não me decepcionar, não fantasiando nada e nem ninguém. Vou vivendo assim, em paz. Um dia de cada vez.
Lucas José
Que legal…No fim, tudo é ajuda. A mudança só vai ocorrer pelo movimento do receptor, mesmo. Essa aprendizagem sempre foi transponivel e não é exclusivamente tal método a solução de diferentes problemas.
O Poder do Agora me lembrou um pouco o ensinamento de Osho. “O homem que vive neste momento, aqui e agora, não está sobrecarregado de passado nem de futuro; ele permanece sem um fardo. Não tem nenhum fardo para carregar; ele se movimenta sem peso. A gravidade não o afeta. Na realidade, ele não anda, ele voa. Ele tem asas”.
Se você pensar sempre no passado, só vai estar se remoendo cada vez mais no presente e vai ficar estagnado. Sem falar que não sabemos o que é o futuro, que aliás pode não existir…Você simplesmente já vive no futuro.
A vida não é feita de etapas, passado >>> presente >>> futuro. Na verdade se você pensar bem, nunca vai sair dessa condição. Quando que chagaras no futuro ? Já vai está sendo o seu presente.
O que existe é o “E Agora ?”
Emílio Calil
Olá, Eddu!
De fato, seu comentário é bastante pertinente. Como eu disse, a ideia não era transcrever o livro inteiro neste post, apenas citar alguns de seus tópicos mais importante. Mas o autor faz constantes menções à Bíblia (e a muitas parábolas de Jesus) para reforçar seus argumentos sobre o “Agora”. Vale a leitura.