Há um ano e meio tenho ido trabalhar de metrô. Metrô e trem. O carro fica com minha esposa, que leva 15 minutos pra chegar ao trabalho; enquanto eu levo cerca de 1h20 (mesmo se fosse de carro). Foi uma decisão lógica, já que gastamos a mesma coisa eu com passagens, ela com gasolina. Se invertêssemos, ela continuaria gastando o mesmo, já eu triplicaria esse valor.
Mas não é sobre gastos que pretendo falar, e sim com o fascinante aprendizado antropológico que se pode aprender no metrô e trem. Meu trajeto consiste em pegar a Linha Verde na Estação Vila Prudente, seguir até a Consolação, fazer baldeação para a Linha Amarela, seguir para a Estação Pinheiros, fazer baldeação para a CPTM na Linha Esmeralda e ir até a Estação Berrini. De lá, mais uns 10 minutos de caminhada até a empresa. Na volta, é o caminho inverso.
Ando de metrô em São Paulo desde garoto, quando só existiam as linhas Vermelha e Azul. Minhas incursões ao centro da cidade, às livrarias e sebos, à Galeria do Rock e ao bairro da Liberdade sempre foram feitas de metrô mesmo depois de ter um carro. Mas é claro que os tempos mudaram. A fauna aumentou e, com ela, o contato e o calor humano. Creio que uma salutar visita ao metrô e aos trens da CPTM poderia explicar muito sobre os hábitos coletivos do paulistano. Qualquer sociólogo ou antropólogo pode se deliciar com uma infinidade de informações. Eu mesmo já aprendi muito, como listo a seguir.
Andando de metrô e trem eu aprendi que:
- As pessoas não sabem a diferença entre esquerda e direita nas escadas e corredores.
- Educação e respeito são itens opcionais, portanto, deixe-os em casa.
- Fila indiana por ordem de chegada é bobagem, amontoe-se ao lado do primeiro da fila e entre correndo na frente dele assim que as portas abrirem.
- As placas de sinalização estão ali com o objetivo de serem ignoradas.
- Os engenheiros que projetaram as estações são babuínos com Alzheimer que nunca tiveram contato com um ser humano na vida.
- O fato de desligarem as escadas rolantes e esteiras em horários de pico só reforça a afirmação acima.
- Zíbia Gasparetto é a alta cultura literária dos usuários da Linha Verde. Na Linha Amarela, você só é culto se estiver lendo os pesados volumes de Game Of Thrones (em inglês, nunca as traduções).
- Ninguém nasce com preconceito, ele é adquirido andando de trem e metrô.
- Se você vai descer na próxima estação e o vagão está lotado, espere até as portas abrirem para avisar isso e comece a empurrar todo mundo.
- Trens lotados não significam que você deve esperar o próximo, e sim jogar-se para dentro até quebrar as costelas de alguém.
- Nem todos os idosos são bonzinhos e adoráveis.
- Nunca se deve esperar as pessoas saírem do vagão para entrar. Empurre-as de volta na aglomeração como se sua vida dependesse disso.
- Responder mensagens pelo celular (ou ler um livro) enquanto anda é ótimo para atrasar a vida de todos que estão atrás de você.
- Os bancos reservados para idosos e deficientes causam sonolência incontrolável em pessoas comuns. Sem falar na dor, pois muitos que sentam nesses bancos sob o olhar reprovador das pessoas fazem uma careta de dor, fingindo passar mal.
- A Linha Esmeralda (CPTM) já teve mais de 91 falhas desde o começo do ano, ou seja, de janeiro pra cá, foram praticamente três meses com problemas.
- O ser humano não foi criado para viver em sociedade.
Se você também tirou grandes lições de vida do transporte público, fique à vontade para comentar e aumentar esta lista.
Alessandro Treguer
Cara, concordo com todos os pontos, por isso, não uso transporte coletivo. Lamentavelmente, sou antisocial, não estou preocupado com o meio ambiente (alias, quem está? Rodizio nada mais é do que um golpe para vc ter dois carros, pagar o dobro de impostos, gastar o dobro com manutenção, etc), trabalho dentro da minha casa, nos meus horários e, se Deus me livre, precisar trabalhar fora, continuarei gastando o que for necessário para não usar este vulgo “transporte coletivo” que mais se assemelha a vagões para transportar animais….
Lucas J
Estão todos tensos na plataforma olhando o relógio a cada minuto, prontos para entrarem no vagão. O carro pra ajudar, fica parado lá atrás, esperando a manada se aglomerar xD. Abrem-se as “portas da alegria” e todos entram na competição da Lei do Cão.
O preço, a viagem e os diferentes destinos, continuam o mesmo para todo mundo. E você acaba se cansando mais com essa neurose, do que ter que ficar em pé.
Alexandre
Cara, eu tinha o inocente pensamento de que apenas eu via essas coisas no metrô. Ótimo texto, parabéns pela visão crítica!
Emerson Freire
É isso aí Emílio. Ótimo texto.
Você precisa ver como é pegar o trem na estação Guaianases. É uma coisa surreal.