Não há lugar melhor para se cometer gafes do que em coletivas de imprensa. As empresas que vão apresentar novo produto ao mercado fecham um restaurante para o evento e realizam demonstrações para um bando de jornalistas famintos, cujo único interesse é comer de graça em lugares que jamais sonhariam freqüentar.
À época em que eu trabalhava em editoria de informática, recebia sempre convite para tais coletivas. Nunca tive maiores problemas em falar bem ou mal dos produtos – não me vendia por comida. Entretanto, pequenas catástrofes individuais eram minha especialidade. Em três ocasiões distintas, três gafes distintas. Lembro-as:
Em 2002, a convite da Macromedia (hoje incorporada à Adobe), estive no lançamento do Flash MX, no restaurante Capim Santo (capimsanto.com.br). Belo lugar, com decoração tropical e um pequeno lago na entrada, transposto por uma ponte. Na área reservada aos jornalistas, assistimos à demonstração do software e, ao término, o almoço. Olhando o cardápio, chamou-me atenção o medalhão ao molho madeira. Como adoro esse prato, pedi. Conversa vai, conversa vem, chega o medalhão com visual magnífico e sabor não menos impressionante. Tenro, molho bem acentuado e – veja só – acompanhava purê de batata. Também adoro purê. Sem hesitar, cortei um pedaço do medalhão, mergulhei-o no purê e comi. Levei algum tempo para decifrar o sabor do purê com a carne – estava adocicado. Provei só a carne: perfeita. Provei só o purê e vi que não era purê, mas banana amassada com canela. Fascinante, estava almoçando e comendo a sobremesa ao mesmo tempo. No final, o sabor do doce com o salgado não ficou tão estranho assim. Ainda voltarei ao Capim Santo para experimentar o prato novamente. Mas não consegui disfarçar o susto ao descobrir os ingredientes pela primeira vez.
Outra coletiva em que não me dei bem foi num lançamento de impressoras da HP no Blue Tree Towers (bluetree.com.br), acredito que em 2002, também. O evento foi realizado no salão de convenções do hotel. Ao fim da apresentação, o bufê ficava do lado de fora do salão, então tínhamos que ir fazer nossos pratos e retornar à mesa. Peguei uma salada aqui e outra ali, alguns pãezinhos e corri para os pratos quentes. Surpresa! Havia panquecas. Outro de meus pratos favoritos. Evitei qualquer complemento e tratei de jogar logo duas panquecas no prato. Retornei ao meu lugar e minha companheira de mesa, que cuidava do marketing da editora, perguntou se eu gostava de lula. “Detesto! Causa-me asco tanto o molusco quanto o político” – disparei, sagaz. “Mas então por que pegastes logo dois enrolados de lula?”, confrontou-me ela. Sem acreditar no que acabara de ouvir, cortei um pedaço da panqueca e lá estavam pequenos tentáculos escuros, cozidos. No mesmo instante sentou-se à mesa, para almoçar conosco, a diretora de marketing da América Latina da HP. Sem saída, tive que engolir a lula – que dominava mais da metade do prato. Para facilitar, mantive um contato fixo nos olhos da diretora da HP, prestando bastante atenção no que ela dizia e, em momento algum, baixei a cabeça para olhar o prato. Não foi fácil, mas sobrevivi.
E a terceira gafe aconteceu também com a Macromedia, no fino e elegante restaurante Ecco (eccorestaurante.com.br), na apresentação do ColdFusion. Eu havia prometido levar à Patrícia, a assessora de imprensa da Macromedia, exemplares das nossas revistas. Atrasados para o evento, um companheiro de redação e eu voamos para o carro com as revistas e disparamos para o restaurante. Chegando lá, a própria Patrícia veio nos recepcionar na entrada do restaurante. Avisei-a das revistas e fomos com ela buscá-las no carro. Mas onde estavam? Após revirar tudo, lembrei. Na pressa, deixara as revistas em cima do carro para pegar a chave no bolso. Conclusão, deixei um rastro de revistas pelo caminho. O almoço transcorreu sem maiores problemas, finalizando com um petit gateau inesquecível. Na volta, ao subirmos o viaduto 9 de Julho, um estrondo atrás. Olhei pelo retrovisor e vi meu estepe, saltitando entre as faixas (o estepe ficava embaixo do carro e a trava havia se soltado). Descemos o viaduto, fizemos a volta e tentamos capturar o estepe fugitivo. Sem sucesso. Ele desaparecera. Perdi as revistas na ida e o estepe na volta. Pelo menos almocei bem.
Há ainda uma gafe meio recente, quando conheci pessoalmente o escritor Janer Cristaldo (cristaldo.blogspot.com), num bar em Higienópolis. Entre chopes e batidas de maracujá, ele pergunta: “Topas uns frutos do mar?”. Eu detesto frutos do mar, mas estava aéreo naquele momento, porque nem pensei direito e respondi “sim, sem problema”. Chega então uma bandeja de mariscos, pareciam pescados na hora. Olhei o monte de ostras na minha frente e pensei: “E agora”? Cristaldo apanhou uma ostra, espremeu limão e engoliu rapidamente. Tentei fazer o mesmo, peguei a ostra, espremi quase todos os limões da mesa e levei à boca. Sem chance. Deixei a ostra de lado e voltei ao chope. Minutos depois Cristaldo pergunta: “Falta-lhe coragem intelectual”? Com indagação no rosto, perguntei: “Para quê?”. “Para enfrentares esses mariscos”. Fazer o quê? Fui desmascarado. Rindo, ele disse: “Deixe que eu me encarrego deles, então”. Ainda hoje, quando lhe envio qualquer e-mail, ele responde: “Quando aparecerás de novo para umas ostrinhas?”
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Muito bom Ervilho.... e como não poderia deixar de ser, fui testemunha de muitas dessas gafes e assino embaixo! Tirando a minha gafe do banheiro alienígena de um restaurante que era preciso urinar na parede e acabei saindo com os sapatos e a calça mijada, essas são as melhores!
Vc deveria sempre escrever sobre essas gafes, a das ostras eu não conhecia... agora a da lula fio sensacional...
Abraço!!
Hahahaha... essa do rastro de revistas e estepe fugindo eu não conhecia. Falta contar da vez em que foram você, o Miltão e mais uma turma para, acho que, treinamento, não era isso?
E sorte sua que faltou coragem intelectual para saborear as ostras, lugar de ostra é no mar, e não nos estômagos dos humanos.
E pelo menos tomaste os limões.
Hahaha... francamente Claudina, não aprendeu a urinar ainda?