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Sobre moral e virtude

No filme Superman, de 1978, quando o Homem de Aço, interpretado por Christopher Reeve, concede uma entrevista à repórter Lois Lane, vivida por Margot Kidder, há um momento em que ela pergunta: “Por que você está aqui?”. Ele responde: “Estou aqui para lutar pela verdade, justiça e pelos bons costumes”. Na verdade esse diálogo ocorre numa dublagem antiga. Em inglês, o Super-Homem diz: “I’m here to fight for the truth, justice and the american way of life” – ou seja, pela “verdade, justiça e o estilo de vida americano”. Em uma análise superficial, a tradução na antiga dublagem foi pertinente e encaixou no contexto. Obviamente o american way é mais do que comportamentos cheios de pudor e respeito.

Outro dia, no escritório, o pessoal falava sobre gostos musicais dos seus filhos. Em meio a porcarias e bandas ‘emo’, uma colega disse orgulhosa: “Ah, meu filho gosta de Ozzy”. A declaração foi feita em tom de defesa, como se dissesse: “Meu filho não está indo para o mau caminho, ele está firme nos bons costumes”. Tempos bizarros estes em que Ozzy Osbourne, o “príncipe das trevas”, é citado como símbolo dos bons costumes e valores familiares. O Super-Homem sempre foi um personagem que simbolizava e inspirava os conceitos morais de liberdade, justiça, verdade e um modo de vida mais regrado – tanto pra os americanos quanto para o resto do mundo. Hoje, nem o “último filho de Krypton” escapou da sanha esquerdista e abriu mão da sua cidadania americana.

Os tempos mudam, é verdade. Mas não significa que mudam para melhor. E em questão de comportamento, a piora é uma queda livre. Aos poucos, valores como família, moral, ética e honestidade são vistos como símbolos retrógrados, ultrapassados e sem sentido. O que antes era virtude, hoje é defeito. E vice-versa. E ai de você se tentar erguer o dedo para defender sua opinião. Acha que tem pornografia demais na televisão? Problema seu, não assista. Quer que seus filhos estudem para garantir um bom futuro? Não, eles não podem ser superiores a quem não quer estudar. Pensa em casar e constituir família? Ora, família é uma instituição falida e atrasada, melhor é ser livre e ficar com quem (e quantos) quiser. Isso sem falar de drogas.

Tudo está tão deturpado que é provável que você me ache antiquado só de ler o parágrafo acima. Mas deixo claro que respeito iniciativas individuais e liberdade de escolha de quem quer que seja para fazer o que quer que seja – desde que dentro da lei. O que critico é a imposição de padrões comportamentais que vão de encontro ao bom senso. Algo que no seu íntimo você sabe que é errado, mas acaba se acostumando por tanto martelarem no assunto. Com o tempo, não terá opinião própria sobre nada.

Teoria da conspiração à parte, mas às vezes é nítido um trabalho bem organizado para chutar os alicerces daquilo que nos mantém distantes da barbárie: a civilização. Quando penso nisso me vem à mente Antonio Gramsci (1891-1937), aquele comunista italiano imbecil cujo legado, tão aclamado pelas esquerdas, é justamente a ideia de fazer a revolução socialista sem armas. Gramsci, grosso modo, pregava a tomada de poder aos poucos, com infiltrações de defensores da ‘causa’ em todas as áreas possíveis: imprensa, órgãos públicos, igrejas, setor privado, forças armadas e afins. Em tudo haveria a mão de algum ‘camarada’ a fim de destruir a democracia e o capitalismo, tal qual um verme que corrói tudo por dentro.

Para assumir o controle, o Estado precisa minar todas as expressões de liberdade e resistência. E que melhor forma de fazer isso do que dizer que certo é errado e errado é certo? Banalize o sexo, corrompa a mente dos jovens, desarme a população, promova discórdia e luta de classes e de raça, inicie debates e coloque em cheque princípios éticos. Há, entretanto, duas últimas barreiras que resistem ao rolo compressor do Estado: a moral e a família.

A família é o sustentáculo da sociedade. Removido esse empecilho, não há limites para nada. Como destruir a família? Primeiro, facilitando suas formas de sua dissolução. E depois, impedindo que novas famílias se formem atacando suas bases de criação. O que o Estado ganha com isso? Uma vez que a estrutura da família não exista, não há por que criar e educar filhos. Dessa forma, o próprio Estado passa a controlar a formação das pessoas desde o nascimento. É o que vemos hoje, com a doutrinação nas escolas e faculdades criando legiões de zumbis. Mas eles querem mais, é preciso que a influência ultrapasse as instituições de ensino e entre nas casas. Basta, para isso, que os pais abram mão dessa coisa chata que é criar os próprios filhos e deleguem a responsabilidade ao ‘Estado amigo’ que está com a mão estendida oferecendo ajuda. Você pode achar exagero, mas o grande obstáculo para o socialismo sempre foi a liberdade individual. Quem leu 1984, de George Orwell, fica assustado com as semelhanças da história do livro ao compará-la a realidade – a “novilíngua”, os ministérios ao avesso e tudo o mais, imaginados em 1949, são tão reais como nunca.

Nos últimos tempos os ataques têm se concentrado com mais violência nas religiões – o embrião da moral. Não passa dia sem que uma notícia ou coluna de opinião não critique as religiões. Há quem pregue abertamente a erradicação de todas elas, afirmando que o mundo ficaria melhor assim – Hitler, Stalin, Marx, Pol-Pot, Lênin e outros ‘humanistas’ aplaudem em pé. Todo direito às pessoas de pensar e dizer o que quiserem. Mas exigir a extinção das religiões é mais autoritário do que os ideais que eles dizem combater – defendem a ‘liberdade’ pregando o fim da liberdade alheia? Por mais que muitos discordem, a religião (não todas, claro) oferece uma liberdade íntima que governo algum consegue destruir. Uma vez que a pessoa aja de acordo com sua fé, as leis seculares e, por consequência, seus representantes, tornam-se secundários. Engana-se quem acha que defendo aqui a teocracia. Governos são necessários e não devem se misturar à religião. Refiro-me aqui a regras comportamentais individuais e não da sociedade como um todo. E não há nada que irrite mais um esquerdista do que competir com Deus por adoração.

Há ainda a falácia de que a moral pode existir sem religião. Essa é uma tecla muito batida. “Sou honrado, honesto, faço o bem e não preciso de religião para isso”. Que bom pra você. Mas de onde vieram seus conceitos de honra, honestidade e benfeitoria? Quais foram os seus parâmetros de referência para chegar nesse modo de agir? Obviamente houve contato, direto ou indireto, com a religião. Ora, incorporar padrões morais religiosos à sua vida e depois excluir Deus da equação é fácil. Difícil é criar moral do nada. “Ah, mas os filósofos da antiguidade conseguiram isso e construíram a base da sociedade ocidental”. Outra falácia. Eles elaboraram seus conceitos de moral e ética buscando artifícios intelectuais como substitutos para uma sociedade já desenvolvida em cima dos critérios dos deuses do passado. Deuses esses que eram meras cópias metafísicas dos deuses sumérios – os quais, por sua vez, acreditavam em um Deus único, do qual obtiveram os conceitos de moral e leis. A própria Lei e Justiça como as temos hoje são reflexos dos ensinamentos religiosos da antiguidade – não haveria o Direito sem as leis religiosas.

Que alguém possa ter moral sem religião é óbvio. Mas isso não prova que a moral independe da religião. Significa apenas que a pessoa talvez tenha adquirido seus hábitos com religiosos. Há diferença entre a moral individual e o conceito de moral na sociedade. Para analisar, seria preciso existir uma sociedade inteira construída em bases sem religião, o que não existe. O mais próximo disso são China, Cuba e Rússia – e veja no que deu. Há quem possa indicar Canadá, Holanda e Noruega como exemplos, mas são apenas países com grande número de ateus, pois suas culturas continuam sobre base conservadora/religiosa. Mas estou fugindo do tema deste post.

Como dizia, destruindo as estruturas da família e erradicando a moral, não resta absolutamente nada que impeça o Estado de fazer o que quiser. Os últimos diques para o mal que vem crescendo e querendo transbordar estão sendo bombardeados. E cedo ou tarde vão mesmo ruir. Cada vez mais pessoas recorrem ao governo para fazer o que elas próprias deveriam fazer. Quem não sabe (ou não quer) educar seus filhos e não consegue dizer “não” a crianças mimadas, espera que o Estado proíba propaganda de bolachas, brinquedos e hambúrgueres para “frear o consumismo e proteger os infantes da obesidade”. É irracional demais. E não há quem reclame, seja para parar o avanço da erotização infantil, da doutrinação nas escolas, da corrupção a olhos vistos, da degeneração da família e dos valores morais. Não há mais quem lute pelo resgate da inocência, do esforço individual para alcançar um sonho, para um aprimoramento espiritual e pela preocupação em deixar boas obras durante a breve passagem pelo planeta. A vida hoje é um gigantesco fast-food.

Não temos um super-herói que venha tirar gatos de árvores ou oferecer guarda-chuvas a velhinhas. Esse herói deve ser cada um de nós. Cabe a você, eu e aos que partilham desse pensamento manter vivos os conceitos de moral e virtude. Ninguém pode (ou deve) fazer isso por você. Ninguém tem o direito de dizer o que é melhor para você ou seus filhos.

Se sua família é moderna ou retrógrada; se é inspiradora ou constrangedora; se te enche de orgulho ou te enche a paciência, não importa. É a sua família e a base de quem você é hoje, ainda que seja diferente deles. Curta-os enquanto estão com você, honre-os, respeite-os. Aprenda com eles, mesmo que seja você quem tenha mais a ensinar. E lembre-se de que eles não são perfeitos e erram. Seja mais simples e humilde.

Se o seu casamento vai bem, lute para mantê-lo sempre assim. Se estiver ruim, péssimo ou um verdadeiro caos, lute para reverter isso. Não vá pelo caminho mais fácil. Não opte pela covardia. Tudo hoje é descartável, até os relacionamentos. Por isso ninguém se esforça. Não deu certo? Cada um pro seu lado. E esquece-se toda uma vida construída, os sonhos, os desafios enfrentados. Onde estão os sentimentos de antes? Tudo uma farsa? Dá trabalho manter um relacionamento, obviamente, mas os resultados são sempre mais recompensadores do que a saída pela tangente. Novamente, seja mais simples e humilde.

A questão não é e nunca foi escolher entre o Super-Homem ou Ozzy, Iron Maiden, Frank Sinatra, Lady Ga Ga, Pavarotti e Justin Bieber. Cada um gosta daquilo que lhe convém. Mas isso não pode definir e limitar a vida. Nenhum músico ou música influencia ninguém. Há muito mais. Existe algo maior do que isso. Se for para usar música como referência, vale o refrão de uma canção do October Projetc:

Whatever you fear

Whatever you hide

Whatever you carry deep inside

There’s something more than this

 

Whatever you love

Whatever you give

Whatever you think you need to live

There’s something more than this

Se você ainda acredita em valores morais inabaláveis, seja você o herói a enfrentar essa onda dita progressista. Não com armas, não com manifestações ou passeatas. Mas com a sua vida. Com o seu modo de agir no dia a dia. Somente você, individualmente, é quem tem o poder de mudar o mundo. A contrarrevolução gramsciana depende somente de você para acontecer. E as armas mais poderosas já estão na sua mão.

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

Ver comentários

  • Acho que vc assume algumas premissas perigosas nesse texto, Emílio. Lembre-se que por séculos os conceitos de moral e virtude sempre foram poluídos com forte pregação religiosa ou com imposição de sistema político. Usar esses prismas para defender um modelo de comportamento na sociedade apenas acirra antagonismos entre direitistas, esquerdistas ou quaisquer outros distas e mantém a conversa no nível de briga de torcidas de futebol.
    Você precisa lembrar que a moral segundo o dicionário Aurélio, “é um conjunto de regras de conduta válidas para aquele momento ou lugar para grupos ou pessoa determinada" ou seja, ela sempre muda e nunca haverá um consenso geral sobre o que é certo ou errado tanto aqui no presente como no passado; não deveria ter nada a ver com religião ou política. Aqui vale citar Kant que dizia que “o valor moral de um ato deriva da sua intenção, não das suas consequências”. Não importa a sua corrente de pensamento, atitudes antes consideradas moralmente corretas como as cruzadas ou a santa inquisição são injustificadissimas nos tempos de hoje.
    No meu ponto de vista, vale muito mais a pena perseguir o estado social legítimo, (próximo do interesse geral e distante da corrupção como queria Rousseau) e que está sempre em mudança do que estabelecer um modelo de comportamento padrão rígido pautado por regras antigas e definidas por homens com interesses que não conhecemos.

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Emilio Calil

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