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O Buttina

Comemorar o Dia dos Namorados em São Paulo tem sido tarefa cada vez mais árdua. Especialmente à noite. Comentei aqui no blog minha epopeia em 2008 para encontrar um bom lugar para jantar. Para onde quer que você pense em ir, se deparará com filas intermináveis e listas de espera de, no mínimo, uma ou duas horas – isso se o restaurante permitir entrar sem reservas. E se for reservar, ligue para o restaurante no mínimo dez dias antes. Tentar uma reserva na própria semana do Dia dos Namorados significa ouvir uma risadinha sarcástica do outro lado da linha. Quem me conhece sabe da minha aversão a filas e multidões e, se o Dia dos Namorados é ocasião para se comemorar a dois, não me agradava a ideia de passá-lo com outra centena de pessoas.

Além disso, pretendíamos fugir dos lugares conhecidos – não que fossem ruins, pelo contrário, mas estão um pouco saturados. Por isso, neste ano pensei em fazer diferente. Enquanto multidões se acotovelariam para encontrar um lugar à noite, minha esposa e eu nos refestelaríamos num almoço tranquilo em um restaurante que ainda não conhecíamos. Elegemos, então, o Buttina (www.buttina.com.br) para a bona-chira. Não poderíamos ter sido mais felizes na escolha.

Localizado no número 976 da Rua João Moura, entre os bairros de Pinheiros e Vila Madalena, o charmoso casarão da década de 40 preserva suas características originais e abriga o restaurante de culinária italiana, que se diferencia pela excelência e pelo seu conceito gastronômico. Premiado pelo Guia Quatro Rodas ininterruptamente desde 2000, o Buttina, com sua gastronomia reconhecida pelo Governo da Itália, oferece o que há de mais tradicional na culinária do país, tendo como destaque o melhor nhoque da América Latina. E isso é algo que eu precisava conferir de perto.

Chegamos lá por volta das 13h, horário em que a casa abre. Olhando por fora, não se tem ideia do tamanho do lugar. Subimos estreitos lances de gastos degraus de pedra e entramos na recepção. Algumas mesas ladeavam um pequeno jardim de onde se podia avistar a rua. Após indicar a reserva, fomos conduzidos à nossa mesa. Enquanto caminhávamos, o restaurante foi se revelando aos poucos e nos surpreendendo com seu charme a cada passo que dávamos. Atravessamos a respeitosa adega e chegamos ao salão nos fundos, que era um antigo quintal e hoje abriga um mezanino com cobertura envidraçada, permitindo a entrada dos galhos de jabuticabeiras. Pela estrutura e decoração, o lugar pode ser descrito como uma cantina italiana com ares franceses. Rústico, mas com detalhes artísticos e cores que o tornam refinado. De encher os olhos, mesmo. Só o fato de ficar ali apreciando o lugar já vale a visita.

Para combinar com o ambiente, o atendimento é impecável. Do maître aos garçons, todos muito solícitos, bem humorados e atenciosos. O próprio dono, José Otávio Scharlach, faz questão de visitar mesa por mesa e saber se os clientes estão satisfeitos. A preocupação com a qualidade é louvável. Mal havíamos acabado de sentar à mesa e já nos serviram a porção de antepasto – a composição é básica: salame, azeitonas, patê de ervas, anchovas, sardela e salada de berinjela. Destaque para a berinjela, com um tempero especial que a torna bem diferente daquelas com que estou acostumado. O cardápio, assinado por Filomena Chiarella, chef e esposa de Otávio, é de difícil escolha e acredito que não há como errar seja optando por massas ou carnes. Mas estávamos ali para conferir de perto o prato que rendeu tanta fama à casa. Dispensamos outras entradas e fomos ao assunto que interessava: o nhoque. Eu, conservador, optei pelo molho à bolonhesa. Minha esposa foi de molho ao alho. Para nos fazer companhia, um vinho chileno razoável. Aliás, outro grande destaque do Buttina é sua carta de vinhos. Atende a praticamente todos os gostos (e bolsos) – particularmente considero exibicionismo pagar R$ 500 numa garrafa de vinho, mas, se você estiver disposto, poderá se exibir à vontade lá.

Enfim chegaram os nhoques. Confesso que realmente são sensacionais. Massa extremamente leve, tenra, feita de batata com manteiga e parmesão, algo divino. Minha esposa acabou concordando com a Quatro Rodas e elegeu este o melhor nhoque de São Paulo. Eu, por questão de gosto muito pessoal, coloco o nhoque do Buttina como ‘um dos melhores’. Ele só não leva o primeiro lugar porque ainda prefiro as massas mais pesadas e rústicas, como as do Gigetto ou da Trattoria Del Michele – talvez por lembrarem o nhoque que meu avô fazia quando eu era criança. Mas isso não desmerece em hipótese alguma o Buttina. Tenho certeza que você passará muito bem lá.

Tristes, satisfeitos e ligeiramente ‘altos’, resolvemos arriscar uma sobremesa. E aí as opções são fantásticas também. Desde que voltamos de Gramado, minha esposa e eu estamos procurando um strudel em São Paulo que seja ao menos parecido com o que provamos lá. Assim, optamos pelo strudel do Buttina. É muito bom, mas ainda não se compara à versão gaúcha. A busca continua. E, por fim, o famoso cafezinho – um dos charmes é que eles deixam na mesa um pequeno bule italiano de café.

Se você procura boa gastronomia, bons vinhos e um ambiente extremamente agradável, seja para curtir a dois ou com a família, recomendo dar um pulo no Buttina e se deixar surpreender. Juntamente com o Blú Bistrô (www.blubistro.com.br), em Perdizes, ele passou a integrar a lista dos meus restaurantes diletos. O preço está na média de boas cantinas de São Paulo. Sabendo fazer uma combinação entre comida e bebida, você tem um bom custo-benefício.

Por fim, continuamos nosso Dia dos Namorados com um tranquilo passeio à tarde por Moema e pelo Shopping Ibirapuera. E quando os casais da cidade começavam a entupir desesperadamente as ruas, lojas e restaurantes no início da noite, nós já estávamos em casa para curtir o final do dia a dois. Para fechar com estilo, ainda fomos agraciados com este pôr-do-sol:

Emilio Calil

Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

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Emilio Calil

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