Em meu dia-a-dia no trabalho, mantenho contato freqüente com a sede da empresa em Seattle, nos Estados Unidos. Ontem, conversando com a responsável por um projeto que estamos adaptando para o Brasil, ela perguntou se aqui o tempo estava quente. Respondi que estava quente demais, difícil até para dormir. Transcrevo o resto da conversa abaixo:
Ela: Aqui está muuuuito frio! Um pouco de calor ia bem.
Eu: Sorte sua, detesto calor. Um pouco de frio ia bem.
Ela: Haha, então vamos trocar nossos lugares de trabalho.
Eu: É pra já! Apesar de que tem havido chuvas fortes aqui esses dias, com enchentes.
Ela: Oh, espero que nada grave tenha acontecido com as pessoas.
Eu: Dê uma olhada aqui (enviei-lhe uma foto do Estadão que mostrava ônibus e carros numa rua alagada).
Ela: Está tudo inundado!
Eu: Sim, muita gente perdeu suas casas, especialmente os mais pobres.
Ela: Mas o governo não está fazendo alguma coisa para ajudar essas pessoas?
Eu: Se vamos falar do governo brasileiro, é bom que você tenha muito tempo livre.
Ela: Haha! Aqui também é assim. Nosso governo é muito, muito, muito ruim. Refiro-me ao Bush.
Eu: Honestamente? Mil vezes o Bush como presidente do Brasil do que o Lula.
Ela: Puxa, preciso pesquisar mais a respeito do Brasil para me informar melhor.
Eu: Nós temos potencial para ser uma grande nação, mas precisamos evoluir muito ainda. Queria que meu país aprendesse mais coisas com os Estados Unidos.
Ela: Você quer dizer sobre capitalismo?
Eu: Exatamente.
Ela: Capitalismo é meio injusto. Prefiro sociais democracias, como na Suécia ou outros países nórdicos, que cuidam de seu povo.
Eu: Sim, mas se um governo cuida demais do povo, o povo se torna preguiçoso. Temos um ditado: “Não dê peixe ao homem, ensine-o a pescar”.
Ela: Ótimo argumento. Não tinha pensado dessa forma.
(– pausa para ela refletir a respeito –)
Ela: Mas e se a pessoa não conseguir aprender a pescar, nunca terá chances contra os bons pescadores.
Eu: Nunca achei que o capitalismo fosse perfeito, mas, bem ou mal, é o melhor sistema econômico que existe atualmente.
Ela: Tem razão. O sistema perfeito seria o que ensinasse a pescar, mas que não ignorasse aqueles que não conseguissem aprender.
A conversa durou poucos minutos mais, fluindo para viagens, lugares favoritos e coisas assim. Assustou-me o fato dela, com muito mais conhecimento e experiência do que eu, pender para o socialismo sem ter embasamento forte para defender a idéia. Assustou-me não pelo fato dela viver nos Estados Unidos, mas por trabalhar em uma empresa que, não fossem as condições de liberdade econômica que o capitalismo oferece, seu fundador jamais teria alcançado o êxito que tem hoje e, tanto ela como eu, estaríamos em outros empregos. Mas louve-se a preocupação dela com as pessoas menos afortunadas, isso não há dinheiro que pague.
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