Após lutar contra conflitos internos em inúteis embates filosóficos, decidi me remover dessa piada de mal gosto chamada ‘sociedade’. Tomei essa decisão ao ver meus dilemas se dissolvendo à luz da razão, quando uma nova realidade se descortinou diante dos meus olhos, finalmente me fazendo entender que as pessoas no mundo desistiram de pensar – algo que demorei a aceitar.
E quando as pessoas deixam de pensar os aviões caem, prédios desabam, boates pegam fogo, corruptos são eleitos, analfabetos recebem diploma, o crime compensa, a virtude é destruída, ditadores viram heróis, o vício é elogiado, famílias se dissolvem, a felicidade é artificial e a esperança é só uma palavra.
Ao entender que as pessoas abandonaram a razão, a ideia do fim do mundo fez sentido como nunca fez em toda a minha vida. E surgiu um desespero incontrolável de não querer fazer parte disso. Impossível aceitar contradições sem valor, sem objetivo, sem cérebro.
Pensar é viver! Pensar é sentir! É mudar o mundo para melhor. Pensar é reconhecer o valor das coisas e das pessoas. Pensar é criar. É buscar sua própria felicidade e sentir orgulho do que você faz. Pensar é não ter culpa. Pensar é não aceitar a injustiça. Pensar é não exigir sacrifícios e nem se sacrificar. Pensar é enxergar o divino nos pequenos detalhes que levam às grandes obras.
E para sair desse mundo que não pensa precisei aceitar que sou egoísta e preconceituoso. Surpreso? Indignado? Você também é, apenas não admite. Aliás, desconfie de quem diz não ter preconceitos, são pessoas perigosas – geralmente políticos e artistas – que vivem da demagogia, pois não têm nenhuma outra virtude.
Mas meu preconceito não é racial, sexual nem nada assim – se você é pobre, rico, gay, hetero, branco, negro, religioso ou ateu… isso não significa nada. Seu mérito não está em quem você é, mas no que você produz, no que você cria, no valor do que você oferece ao mundo – no uso da sua mente. Se você não produz nada, não pode exigir nada.
Meu preconceito é contra ideias, não contra pessoas. Por isso resolvi me afastar de tudo o que vai contra meus valores morais e éticos. “Que valores são esses?” – você pergunta. São todos aqueles que, sob uma análise racional, considero certos, verdadeiros e bons. E não vou enumerá-los aqui, pois é preciso que você pense sozinho para descobrir e aceitar esses valores. Na análise racional dos seus conceitos individuais você chegará a conclusões semelhantes às minhas e verá que estou certo.
A razão sobre a emoção
Abandonei a emoção como métrica da vida – decisões emocionais resultam em desastres. A razão deve controlar a emoção. E minha emoção, por ser íntima e valiosa, reservo para quem e o quê a merece. Você pode achar isso frio e insensível, mas não é verdade. Apenas refinei meus sentimentos. Quando isso ocorre, você se torna mais exigente, mais seletivo e indiferente a muitas coisas. Por exemplo, sou imune a notícias de acidentes, tragédias, catástrofes e coisas assim – sério, não sinto absolutamente nada. Mas choro feito criança ao assistir este vídeo.
Deixei de me importar com os sentimentos das pessoas, mas não com as pessoas. Não entendeu? É simples: Os seus sentimentos são criados pelos seus pensamentos, e o que você pensa ou sente só diz respeito a você. Eu controlo meus sentimentos, não você. E você controla seus sentimentos, não eu.
Mas gosto de ver aqueles que amo sempre bem. Se posso fazer algo por eles, faço. Não por caridade, mas pelo prazer de vê-los felizes e fazendo a vida valer a pena. Mas só ajudo quem merece. “E como saber quem merece ou não?” – você dirá. Basta pensar! Você verá que é digno de ajuda quem não pede por ela, não se faz de vítima e nem apela para o emocional.
Até a fé exige razão, pois fé é a crença comprovada. Se você acredita porque alguém lhe disse para acreditar, sua fé é fraca e manipulável. Para seguir uma religião é preciso usar a razão: Se os atos do pregador são contrários à doutrina que ele prega, então é seu dever pensar e discordar.
É a falta do pensamento racional que leva as pessoas ao eterno conflito entre corpo e alma. Se você usa a razão e o discernimento, não terá essa aflição, pois entenderá que corpo e alma possuem um mesmo propósito: devem trabalhar juntos e livres de culpa. Só erra quem não pensa. Só erra quem espera que outros pensem por ele.
Nenhum papa, padre, pastor, rabino, guru, chefe, juiz, prefeito, governador ou presidente pode controlar sua vida. A sua vida só pode ser guiada por você. Fuja de discursos emocionados e enganadores de Obamas e Lulas. Você pode precisar de orientadores, nunca de líderes. Só precisa de líder quem não quer assumir a responsabilidade pelos seus atos. Quem desiste de pensar e tem medo de tomar decisões busca refúgio no líder (que leva a culpa pelos incompetentes).
Meu bem mais precioso é o meu tempo. E somente eu decido como usá-lo. E decidi usá-lo para minha felicidade, meus objetivos, minhas conquistas. E apesar do que você possa pensar, isso não significa satisfazer desejos irracionais ou prejudicar outras pessoas. É justamente o contrário! Por reconhecer que meu tempo é precioso e limitado, eu preciso usá-lo para os melhores propósitos possíveis, que podem ser sim egoístas – não no sentido pejorativo, mas como uma virtude racional (ou individualismo), que significa me preocupar com meus interesses particulares.
Ao entender isso você percebe que não pode perder tempo com besteiras. Seu tempo é valioso demais para se preocupar com banalidades – sejam coisas ou pessoas. Não há tempo para ódio, inveja, preguiça. É imprescindível enriquecer! Isso mesmo, enriquecer! Tornar-se rico material, cultural e espiritualmente. Você terá que escolher entre aprender algo novo ou ficar em frente à TV. Terá que pensar em como aumentar sua renda usando seu intelecto em vez de reclamar que nunca tem dinheiro. Terá que cultivar virtudes cada vez mais elevadas e puras para não se deixar arrastar pelo mal. Terá que abrir mão de muitas coisas para conquistar outras.
Ao concluir isso, menos vontade você terá de viver nessa ‘sociedade’ que exige tudo de você e não lhe dá nada em troca. Perceberá que não existe diferença entre pagar impostos e ser assaltado – ambos lhe privam de seus bens contra sua vontade para satisfazer parasitas. Perceberá que a falta de educação começa a incomodar mais. Perceberá que certos assuntos já não lhe agradam. Perceberá que a companhia de um livro é melhor do que a de certas pessoas. Perceberá que música e arte devem ser sublimes e não grosseiras. Perceberá que quanto mais incapaz a pessoa é, mas ela exigirá proteção por meio de leis. Perceberá que não vale a pena se esforçar por quem não se esforça.
Chega de sacrifícios
Quantas vezes você se matou por alguém, deixou de fazer o que gostaria para ajudar outra pessoa e depois quebrou a cara? Isso o que você fez tem um nome: Sacrifício. E apesar do que se acredita, sacrifício não é uma virtude, é burrice mesmo.
Se a ajuda que você oferece vai lhe prejudicar, isso é irracional. Você não é um mártir e o mundo não precisa de mais sacrifícios. Viver uma vida plena e feliz é uma forma de valorizar e reconhecer os sacrifícios que foram feitos no passado.
O sacrifício é diferente da privação temporária. Se você deixa de jantar fora para economizar e poder comprar algo que deseja, isso não é sacrifício, é o uso racional do seu dinheiro – você está indicando que aquilo que deseja é mais valioso do que os restaurantes.
Ajudar alguém não é sacrifício se a pessoa reconhece isso e faz valer o valor da ajuda. “Mas não é certo ajudar alguém sem esperar nada em troca?” – você perguntará. Sim, a ajuda deve ser voluntária, nunca uma obrigação. Mas é preciso saber quem ajudar, pois aí você entenderá, finalmente, o que significa “não dar pérolas aos porcos”. A melhor forma de ajudar a África, por exemplo, é parar de ajudar a África, como você pode ler aqui.
Aceite que você não pode salvar nem mudar o mundo. Não pode lutar contra o mal porque o mal sempre será mais forte. Não pode vencer o mal porque é o mal que elabora as leis. A luta sempre será injusta quando se usa as regras do adversário.
Por isso decidi parar de me sacrificar pelo mal. Decidi parar de alimentar aquilo cujo propósito é me destruir. Não posso deixar que esse parasita me obrigue a dar o sangue a troco de nada. E a única forma de fazer isso é matar o parasita de fome. Como? Simplesmente me removendo da sociedade e me recusando a fazer parte dessa festa insana.
Como se remover da sociedade?
É preciso mandar pro inferno quem diz que a verdade é relativa, que não existe certo e errado e que bem e mal são conceitos abstratos. Quem afirma isso são criminosos morais que visam destruir os valores mais sagrados que você tem. São seres do mais baixo nível, incapazes de se sustentar pelas próprias pernas e, invejosos, distorcem a realidade para justificar sua depravação, invertendo a moralidade, recompensando os maus e punindo os bons. E fazem isso sob o pretexto de lutar pelas asquerosas ‘causas sociais’, exigindo que o mundo lhes aceite pelo que são e não pelo que fazem.
Então, sim, é preciso escolher um lado. O caminho do meio nem sempre é prudente, mas é sempre o dos covardes. Ficar em cima do muro é assumir sua incapacidade de pensar. Sim, é sua obrigação diferenciar certo e errado, e você só vai conseguir isso pensando e discriminando. Sim, você deve fazer o bem e repudiar o mal em todas as circunstâncias, e isso às vezes lhe obrigará a se afastar de lugares e pessoas. Repudie quem diz “isso não tem problema”, “o mundo mudou”, “todo mundo faz”, etc. Você dirá: “Que exagero, não é preciso chegar a extremos assim.” Na verdade é preciso sim e, se você acha que não, isso só mostra como a covardia e a recusa de encarar a realidade controlam sua vida. Mas as mudanças devem ocorrer dentro de você, racionalmente. Se você deseja lutar por algo, que seja sempre pela liberdade acima de qualquer coisa.
Por isso resolvi me remover disso que chamam ‘sociedade’. Prefiro viver na civilização, onde as pessoas buscam soluções e não culpados. Onde criminosos não são “supostos”. Onde a pessoa é recompensada pelo que faz e não por quem é. Onde respeito, educação e honestidade são meras obrigações e não virtudes. Onde a verdade não resulta em processos judiciais. Onde o governo não reprime o sucesso e incentiva a incompetência. Onde o dinheiro compra produtos, não pessoas. Onde a felicidade é um meio e não um fim. Onde ninguém tem o direito de usar força física para tomar dos outros o que lhes é valioso ou de impor suas ideias sobre os outros. Onde as pessoas não percam tempo tentando salvar um mundo que não quer ser salvo.
Você deve estar se perguntando onde é esse lugar e quando vou me mudar para lá. Vamos por partes. Há um ditado que diz: “Seja você a mudança que deseja ver no mundo”. É isso que farei. Não posso mudar o mundo, mas posso mudar a mim mesmo e ser o exemplo daquilo que acredito. Mudar de lugar por causa dos problemas é levar os problemas para outro lugar.
Talvez eu não esteja em São Paulo no futuro. Quem sabe? Mas antes da mudança física é preciso a mudança da consciência. Quando a minha mudança interior estiver completa e refletida naqueles que amo, aí será a hora de mudar fisicamente. Não para fugir ou criar um ‘exército de homens honrados’, como um amigo sugeriu certa vez neste texto, mas para viver. Os parasitas que fiquem com as migalhas que eu deixar para trás.
Sim, eu quero fazer a vida valer a pena. Eu quero honrar aqueles que vieram antes de mim e fizeram por merecer. Eu quero ser a mudança, não no mundo, mas em mim mesmo. E sim, eu quero mais dinheiro, mais conforto, mais paz e mais segurança; e quero que aqueles que amo estejam ao meu lado para desfrutar comigo. Mas quero conquistar tudo isso pelo preço do meu esforço, nunca da minha alma.
Emerson Freire
Emílio, esse foi um dos seus textos que mais gostei de ler. Com isso não estou desmerecendo os outros, de forma alguma. O que eu vejo aqui é um Emílio amadurecido. Outro motivo para elogiar seu texto é que compartilho de boa parte das ideias propostas, só não tinha me visto ainda como um “egoísta” e “preconceituoso”, coisa que de fato sou. Agora entendo também o porque daquela sua pergunta sobre “egoísmo” (estou devendo o texto, e escreverei, aguarde).
Parabéns meu amigo. E o que mais posso dizer além de “excelente”?
Claudinei Costa
Realmente, sem dúvidas, um dos melhores textos, Emílio! Parabéns pela libertação e “desabafo” a essa vida ingrata em que vivemos… Um dia evoluirei e mudarei totalmente minha vida pensando da mesma forma… pois ainda consigo me igualar em poucos pontos do seu texto. Acredito não estar amadurecido, como diz o amigo Emerson Freire no seu comentário, mas estou trabalhando pra isso…Outra coisa, o vídeo inserido no seu texto, no ponto em que você diz que chora feito criança ao assistí-lo, é fantástico e me emocionou também…
Abs!