Divirto-me ao ler sobre o empenho de empresas para se mostrar ecologicamente responsáveis. Agora todos querem fazer deste planeta um lugar melhor. Muitos setores da indústria já possuem suas chamadas ‘linhas verdes’ de produtos. Até internet entrou na roda, com o debate de que sites com fundo preto gastam menos energia do monitor e há os que defendem o contrário, que sites brancos são menos poluentes.
Há uns dez anos, para uma empresa ser ‘moderna’, não podia vender produtos, tinha que “fornecer soluções e se comprometer com resultados dos clientes”. Hoje isso é o mínimo que se espera. Agora o mote mudou, empresa moderna cuida do meio-ambiente. Ora, isso também é o mínimo, e não diferencial.
Não ironizo a redução de poluição, reciclagem e coleta seletiva. São ações importantes. A ironia está em ver que isso é apenas moda. Alguém disse que consumidores compram mais de empresas engajadas com o meio-ambiente e agora um quer ser mais ecológico que o outro. Isso é coisa de eco-chatos esquerdistas que vivem falando em causas ambientais, mas sem resultados. É como abraçar árvore. Ninguém está nem aí para a derrubada de árvores, então faz-se uma ação onde pessoas dão as mãos e ‘abraçam’ uma árvore. Pronto, a natureza está salva.
Isso me remete a meados de 2005, época em que a agência onde trabalhei atendia uma indústria química de Piracicaba. Visitei o lugar algumas vezes. Quem andasse pelas instalações não imaginaria que ali se produzia resinas. Entre os galpões e tonéis, ruelas de pedra arborizadas davam num jardim com quiosque e churrasqueira. Parecia um sítio. Acima ficava o reservatório de água, com muros forrados de vegetação e uma criação de carpas. Para quem não sabe, carpa demanda água cristalina e cuidados especiais para sobreviver. Aquelas carpas habitando a água tratada da fábrica provavam o cuidado com o meio-ambiente.
Conversando com o diretor comercial, sugeri ressaltar essas preocupações ambientais com clientes e imprensa. Sorrindo, me respondeu: “Bem, Emílio… Apesar do verde e água limpa, eu não usaria isso como diferencial. Há alguns meses houve um vazamento e os resíduos contaminaram água e solo de uma favela lá embaixo no vale. Tivemos problemas sérios com a prefeitura e ficamos com a pecha de empresa malvada que despeja lixo tóxico nos pobres”. Tragicômico. Com tantos lugares para o vazamento escoar, foi logo para a favela.
Não basta querer ser ou se auto-proclamar ecologicamente responsável. O menor descuido destrói essa imagem.
Outro exemplo clássico é o do ex-vice-presidente americano Al Gore e seu demagogo evento Live Earth, que reuniu, em 2007, artistas de todo o mundo contra o aquecimento global e desperdício de energia, sendo que o próprio Gore gasta mais energia em um mês na sua casa do que um americano médio em um ano.
Tenho visto gente comemorar o surgimento do Kindle, o leitor de e-books da Amazon. É sem dúvida um produto revolucionário você armazena centenas de livros digitais em um único aparelho. Mas esses que celebram o Kindle mandam uma mensagem aos jornais convencionais: “Parem de derrubar árvores!”. Alto lá! Apesar dos leitores de e-books substituírem livros e jornais de papel, não podemos ignorar que o produto é feito de plástico, possui tela LCD e usa bateria para ler as notícias do dia, você estará gastando energia. Não que o Kindle seja um agente poluente, mas há de se pesar os prós e contras. Árvores podem ser replantadas.
E mais uma vez volto àquele diretor da indústria química. Na mesma conversa, insisti que poderiam fazer parceria com algum instituto de proteção ambiental. E ele: “Veja bem, Emílio. Nós não fabricamos móveis, não vendemos frutas, não produzimos tecidos. Somos uma indústria química que produz plástico, produto que leva mais de 100 anos para começar a se decompor. O plástico sempre será visto como o pior vilão contra a natureza. Nenhum instituto ambiental se interessaria em nos ter como parceiros, pois nosso trabalho implica em poluir mais ou poluir menos, mas sempre poluir. É bem provável que estejamos, neste exato momento, contribuindo para o fim do mundo. Mas o planeta inteiro depende de plástico e, até que alguém invente uma alternativa viável, não há nada que nós ou nossos concorrentes possamos fazer”.
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