Mulheres Ricas

postado em: Cotidiano 1

Já imagino você com pedras na mão, pronto para atirá-las em mim. Como posso elogiar um dos programas mais fúteis da televisão brasileira? Como eu (logo eu!), que sempre brandi o estandarte da cultura, da filosofia, da boa leitura e do conhecimento, posso afirmar que Mulheres Ricas é um bom programa?

Antes de ser apedrejado, permita-me discorrer alguns parágrafos em minha defesa.

Eu não assisto TV aberta. Nada. Absolutamente programa algum. Na verdade eu não assisto televisão. Quando muito um documentário em HD do Discovery ou algum programa do Travel & Living. Lá em casa a TV passa a semana inteira fora da tomada. É sério.

Por isso só soube do tal Mulheres Ricas pelo Facebook. Chamou minha atenção o número de pessoas xingando e exigindo o fim do programa. Ora, por pior que seja, é você quem decide se quer assistir ou não. Exigir que o programa saia do ar é bobagem e vontade reprimida de censurar. Coisa de esquerdista – luta pela ‘liberdade de expressão’ quando convém; mas se não gosta de algo, quer banir da face da terra.

Assim sendo, para não dizer que critiquei sem ver, resolvi dar uma chance e assisti aos primeiros capítulos de Mulheres Ricas. De fato, é péssimo e completamente desprovido de conteúdo. A ideia é acompanhar o cotidiano de mulheres milionárias que não têm mais o que fazer além de comprar roupas, viajar em jatinhos e beber champanhe – aliás, uma delas tem champanhe nas veias em vez de sangue. Elas gastam em um dia o que você ou eu não ganhamos em um ou mais anos.

Mas para espanto geral da nação (e principalmente da minha esposa, que não se conforma), acabei gostando do programa. Ri como há muito não ria. É o melhor programa humorístico da TV aberta – se você souber enxergar com os olhos certos. Como disse o falecido carnavalesco Joãozinho Trinta: “Pobre gosta é de luxo, quem gosta de miséria é intelectual“. E é verdade. Quantas pessoas não gostariam de estar no lugar daquelas mulheres? Quantas não gostariam de levar a vida que elas levam? Metade das críticas que o programa recebe é inveja disfarçada de indignação.

Mas indignação com o quê? A vida delas é assim. Sempre foi. Apelar para a falida luta de classes é fazer papel de idiota. Mas Emílio, elas falam mal dos pobres, humilham as pessoas e tal! Sim, e daí? Você não precisa concordar com elas – eu não concordo. E aqueles seus artistas, músicos ou políticos favoritos pensam igual. A diferença é que eles vivem do público e precisam adular as pessoas. Já as tais milionárias não estão nem aí para a opinião alheia – o que confere ao programa mais ‘realismo’, mesmo sendo tão irreal. Se eu fosse me ofender com bobagens, nem sairia de casa.

Que mais não seja, se você utilizar um poderoso ‘microscópio empreendedor’, poderá aprender algo com o programa. Eu sei, é difícil acreditar. Dou risada de mim mesmo ao pensar nisso. Mas é verdade. Removendo a futilidade, o champanhe, a maquiagem e manias excêntricas, é possível aproveitar algo. Uma ou duas delas exercem profissões bacanas e administram suas empresas. Nos poucos momentos em que elas são filmadas trabalhando, surgem oportunidades únicas de se aprender como pensam as pessoas bem sucedidas, como administram seus negócios e como se relacionam. Mais importante do que ganhar milhões é saber administrá-los.

Mas Mulheres Ricas é bom mesmo para dar risada. Há tempos a TV aberta não exibia um programa humorístico que me fazia chorar de rir.

Seguir Emilio Calil:
Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

  1. Emerson Freire
    | Responder

    Nem com essas vantagens conseguiria assistir uma programa desses. Mas concordo em número em grau quando você diz que gritar para tirar o programa do ar é uma bobagem e desejo reprimido de censurar, coisa de esquerdista mesmo.

    Mas não concordo com essa frase do João Trinta, a não ser que os intelectuais de que ele fala sejam os intelectuais de esquerda.

    E por falar tanto em esquerda tenho uma dica de filme para você assistir Emílio. Talvez você já o tenha visto porque é antigo e já passou várias vezes na TV, mas eu só assisti inteiro recentemente. É o Doutor Jivago. O Pano de fundo da história é a Revolução Russa, e o filme mostra muito bem o que aconteceu com a Rússio logo após os comunistas terem tomado o poder, uma miséria total.

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