O professor e as leis

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Escreve-me o professor Jackson Galvão, comentando meu texto sobre a lei que proíbe a pessoa de fumar dentro do próprio veículo:

Olá.

Compreedo a indignação que se faz frente a liberdade das pessoas de decidirem o melhor para si. E acredito que nem deve ser diferente. Devemos sim entender com clareza os limites que a sociedade tem sobre a individualidade, bem como esta tem sobre a sociedade. E é neste preocupação que a lei retringe o uso do fumo ao estar no volante. O cidadão não é proibido de fazer uso de fumo em seu veículo, desde que não esteja ao volante, colocando em risco, por algum eventual incidente com seu objeto de consumo, a sua vida e dos demais que pela vida transitam, tirando desta forma o direito que as outras pessoas tem de vive e decidir o que é melhor para si.

Os acidentes são inúmeros e hoje o Brasil mata mais pessoas em acidentes de transito do que a guerra do Iraque. São diversos impecílhos como estradas em más condições, pouco ou nenhuma sinalização, veículos em más condições e principalmente a combinação da ingestão alcoólica com o volante que correspodem a cerca de 60% dos acidentes de transito. Ou seja, o que vemos é pura irresponsabilidade. Realmente, o que precisamos não são de leis. O que precisamos é de EDUCAÇÃO; e o que na realidade temos são escolas superlotadas, altos salários para políticos e professores mal remunerados (e digo isto por eu, que às vezes fico 5 mêses sem receber) e de brinde (óbvio) um povo que não presa por valores simples e sensatos como o respeito a VIDA, . Se a tivéssemos, não precisaríamos de nenhuma lei, pois saberíamos nosso limites.

Abraços!

Prof. Jackson

Meu caro professor, entendo tua colocação, mas permita-me discordar. Mostra-me, então, pesquisa que indique ser o cigarro grande causador de acidentes no trânsito. Conheces alguém que bateu o carro por fumar ao volante? E, como indaguei anteriormente, por que só o cigarro? Uma pessoa não pode se distrair ao volante chupando pirulito, mascando chiclete, conversando ou até trocando a estação do rádio? Proibamos tudo isso, também! Essa lei por si só não se sustenta, não se justifica. Uma lei que tenta prever casos hipotéticos não é lei, é cerceamento de liberdade. O jornalista Reinaldo Azevedo fez boa analogia sobre assunto parecido dizendo que, para prevenir o câncer de mama, melhor amputar os seios de todas as mulheres do mundo e pronto, a doença se extingue.

Já teu segundo parágrafo é mais coerente, professor. Concordo que péssimas estradas, má sinalização e veículos em condições duvidosas – fora o álcool – são fortes causadores de acidentes. Mas não achas engraçado que todos esses itens são de responsabilidade do governo? Ora, se o governo não oferece boas estradas, não mantém sinalizações visíveis, não inspeciona os carros nem verifica se o motorista está embriagado, como pode esse mesmo governo exigir que não se fume dentro do carro para evitar acidentes? Fizesse o governo a parte que lhe cabe, não contaríamos mais mortos do que os países em guerra.

E concordo novamente quando diz que não precisamos de mais leis. De fato, as temos até demais. Um povo cônscio de suas responsabilidades não precisaria de tantas leis para exercer direitos e deveres. Bastaria, como disseste, professor, a educação e o respeito mútuo. Mas “nenhuma lei” não é exagero? Nem eu, que sou contra a onipresença do governo em nossas vidas, chegaria a ponto tão anárquico. Mesmo em países civilizados existem leis para manter a ordem. A diferença é que lá essas leis funcionam e são respeitadas.

Por fim, também compreendo tua frustração ao ver políticos corruptos milionários enquanto temos professores jogados ao relento da educação do país. Mas essa é a idéia, quanto menos cultura, menos conhecimento e menos educação, os governantes que aí estão têm voto garantido. O mínimo de discernimento político faria a população expulsá-los a pontapés. Cinco meses sem receber salário? No mínimo, frustrante. Já passei por experiência semelhante e sei o que é isso. Solidarizo-me.

Mas veja bem, professor. Em tuas mãos está parte do poder para reverter esse quadro. A ti foi confiado o futuro do país. Tens a capacidade de ajudar na formação de jovens mentes que serão eleitores – se é que já não são. Teus dissabores devem servir de exemplo para fazê-los buscar cada vez mais conhecimento, apesar de todas as dificuldades. Em ti, professor, está o embrião de novos políticos, artistas, jornalistas, médicos ou advogados. Por isso, professor, peço-te humildemente uma coisa. Não sei qual matéria leciona, nem para qual idade de alunos, mas “impecílhos” e “mêses“, entre outras, não são palavras que se espera de um educador. Rogo que não seja isso que ensina a teus alunos, do contrário, o problema com a educação é mais sério do que imagina.

Seguir Emilio Calil:
Empresário, Palestrante e Escritor. ⚡ Fundador do Marketing de Transformação, que emprega técnicas de autoconhecimento e coerência para elevar o espírito de pessoas e empresas.

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