Eram 01h25 quando o telefone tocou naquela segunda-feira, 7 de dezembro de 2009. Impossível ligação nesse horário trazer boas notícias. De fato, não trouxe. Era minha noiva:
Oi… Tudo bem? perguntei.
Não… ela respondeu. Adivinha?
A Talita?
É…
Então, apesar de tudo, de todos os esforços, de toda a luta, ela havia partido. Deixara-nos às 00h30. O que aconteceu a partir daí foi uma mescla de confusão, dor, tristeza e por mais difícil que seja admitir alívio, também. Ao menos o sofrimento terminara.
Desliguei o telefone e minha mente recuou no tempo. Quando a conheci? Quantas vezes a vi? Percebi, surpreso, que a conhecia muito pouco. No final de 2008 um grande amigo a apresentou como sua namorada. Apesar do pouco tempo de convivência, minha noiva e eu a considerávamos como amiga de infância. Certas pessoas simplesmente se conectam tão naturalmente às nossas vidas que dão a impressão de que sempre estiveram ali.
Lembro que, dias depois de nos conhecermos, ela descobriu este blog e mandou um recado: Adorei teu blog! Acabou de ganhar uma leitora. Ela era assim, sempre encontrando uma forma de agradar. Minha noiva teve mais contato com ela e se apaixonara pelo seu jeito simples e divertido ambas tinham muito em comum.
Nesse ano que passou, ela e o namorado compraram apartamento e programaram o casamento. Os dois se completavam e, pra curtir esse momento, marcaram um cruzeiro para o início de 2010. E aí terminavam as informações que eu tinha sobre eles.
Então, em 26 de novembro recebi a notícia de que a Talita não estava bem. Ela havia se submetido a uma cirurgia de lipoaspiração na noite anterior e algo saiu errado decidira fazer a lipo justamente para o cruzeiro. Depois, soubemos que tudo não passara de susto. Porém, à noite veio outra notícia preocupante: Ela fora removida para a UTI do Hospital das Clínicas.
As notícias vinham confusas o estado era grave, depois não tão grave; ela piorava, depois melhorava. A confirmação do que ocorreu de fato começou a aparecer e soubemos que ela estava com os dois pulmões perfurados. Voamos para o hospital a fim de oferecer apoio à família é pouca coisa, mas era o que podíamos fazer. Naquela tarde ela passou por uma cirurgia de emergência. Soubemos, então, que além dos pulmões, o esôfago também fora perfurado e acabou necrosando, sendo removido na cirurgia.
Difícil observar a família recebendo tal notícia. Como consolar alguém que transparece desespero no olhar? Como dizer que tudo vai ficar bem? Não existe fórmula mágica para isso. Nesses momentos, o que se pode fazer é manter a calma e transmitir a fé para se passar por tudo aquilo. Até os médicos do HC pareciam incertos sobre a recuperação.
Sobre o cirurgião plástico que fez a lipo, Ivan Bertanha (CNS: 108250207910006), pretendo não comentar nada. Conheci-o pessoalmente, obtive informações nada agradáveis a seu respeito e, por isso, minha opinião ficará para, quem sabe, outro post.
Não houve ninguém, entre amigos e familiares, que aprovasse a cirurgia. E não foram poucas as tentativas de fazê-la desistir da ideia. Soube, inclusive, que um dia antes ela titubeou, ficou com medo, mas, no fim, decidiu seguir em frente. Talvez essa seja a parte mais amarga. Saber que um simples não poderia ter mudado o curso dos acontecimentos.
Ó vaidade, quantas vítimas serão necessárias para saciar tua fome?
Ela seguiu internada e as notícias não eram boas. As sequelas e possíveis consequências decorrentes das cirurgias não davam muita margem para esperança. Mesmo assim ela lutou e agarrou-se à vida. Mas as complicações foram se agravando sanava-se uma coisa e descobria-se outra. E, assim, após onze dias, ela nos deixou.
A dor e a revolta da família são mais do que compreensíveis. Num dia, temos a pessoa do nosso lado, rindo, conversando, planejando… No outro dia, o vazio. Confesso que sinto mais por aqueles que ficam do que pelos que partem. Se servir de consolo, pelo menos quem está sofrendo somos nós e não nossos amados, que descansam.
Mas esse era o desejo dela. Foi decisão que levou até o fim. Sabia dos riscos e ninguém a fez desistir. Além disso, recebeu o melhor tratamento médico possível, o que deve nos deixar a sensação de que fizeram tudo o que podia ser feito.
Mais tempo, menos tempo, todos partiremos. Eu deixarei de escrever aqui um dia. No fim, não importa a maneira como deixamos este mundo e sim a forma como seremos recebidos no outro. Uns fenecem por doença, outros em acidentes, outros em guerras, outros por causas naturais, outros de fome… Há um ditado que diz: Ao morrer, o animal deixa sua pele; o homem, o seu nome. O que deixamos para trás é parte da nossa imortalidade, é a lembrança da nossa passagem por aqui, da nossa índole, do caráter e das obras que realizamos. Sendo assim, no caso da Talita podemos considerar seu rumo à imortalidade como missão cumprida.
O leitor pode considerar este texto um exagero, uma ode a alguém vítima de fatalidade. De fato não há resposta para isso além do fato de que quem a conheceu compreende minhas palavras. Gostaria de, quando partir, deixar a mesma impressão que ela deixou.
À família, aos amigos e conhecidos, que palavras podem aliviar a dor? Nenhuma. Quando a ordem natural das coisas é alterada e os pais enterram seus filhos, só podemos orar para que o fardo, com o tempo, se torne mais leve. E para aqueles que cogitam se submeter a cirurgias semelhantes, fica a lição para repensarem suas decisões. Vaidade alguma vale a sua vida. Vaidade alguma vale o sofrimento daqueles que amamos.
A seguir, incluo alguns links de reportagens sobre o caso, que foram ao ar à época dos acontecimentos. Quem puder repassar este texto, tem minha gratidão. E logo abaixo, o clipe No-One But You, do Queen, que dedico à memória da Talita.
Emerson Freire
Olá Emílio.
Fiquei sabendo da história de sua amiga pelo Michel, ou melhor, foi no Terra que soube sobre ela, o Michel foi quem me disse que ela era amiga de vocês.
Eu não a conheci mas lamentei pelo ocorrido, e fiquei contente por saber que teu irmão desistiu da operação.
Sou contra cirurgias estéticas sem necessidade real. Tá certo que podemos morrer de qualquer coisa, é algo que não está totalmente sob nosso controle, podemos morrer só por atravessar a rua com sinal fechado e na faixa, mas atravessar a rua é uma necessidade, e cirurgias estéticas nem sempre são. Respeito quem faz, mas não respeito o “fazer”.
Quanto a você meu amigo, um feliz ano novo, paz, saúde e tantas outras bençãos que o céu pode dar.
DANIELA
BOM, SEI DO SOFRIMENTO, TBM NÃO ME CONFORMO SOBRE O CASO, MAS COMO UM CIRURGIÃO QUE A CONHECIA A TANTO TEMPO E COM TANTOS ANOS DE EXPERIENCIA PODERIA CAUSAR TAIS PERFURAÇÕES? ERA AMIGA DA TALITA,TRABALHAVAMOS JUNTAS, TBM CONHECIA O CIRURGIÃO, COM BOAS REFERENCIAS INCLUSIVE, A FAMILIA DA TALITA TBM JÁ HAVIA SIDO OPERADA COM ELE.NÃO O CULPO PELO OCORRIDO,TENHO PENA PRA FALAR A VERDADE, ACREDITO NO SOFRIMENTO DA FAMÍLIA, NOSSO MAS PRINCIPALMENTE DO CIRURGIÃO.NÃO DEVEMOS JULGAR PARA NÃO SERMOS JULGADOS!!!
TÁ CERTO QUE TER A TALITA DO NOSSO LADO É O QUE TODOS QUERÍAMOS, MAS ELA ESTÁ!!! NA FORMA DE ANJO!
Denise
Olá,
Estava lendo sua matéria…Fiquei muito comovida com a história. Na verdade eu fui ler depois que vi o nome do cirurgião. Eu o conheço pessoalmente, já fiz cirurgia de protese faz 3 anos. Fiquei inconformada com tudo isso pois só operei com ele por indicação das minhas amigas.
Vi que era uma pessoa que além de atuar no ramo por muito tempo, era uma pessoa humana e extremamente capaz. Disse que queria fazer uma lipo e ele disse que lipo não era necessário pois não era o caso de eu precisar passar por algo tão drástico que uma dieta resolveria o problema!Então só coloquei silicone ( e ficou lindo) Como minhas amigas disseram ele sempre foi muito idôneo, queria o bem estar das pacientes prezando pela saúde, não é daqueles que só pensam em dinheiro. Confesso que além de médico foi um amigo para mim!
Achei muito estranha essa história, um erro desse tipo não pode ter acontecido com um profissional tão antigo.
A perda de alguem nessa idade é lastimável, mas acho também que não podemos ficar falando dos outros sem ter a certeza dos fatos.Tenho certeza que ele deve estar sofrendo também, pois sei como ele tem um carinho pelas pacientes.
Sinceramente eu operaria com ele novamente.
Tem coisas na vida que não tem explicação……não podemos esquecer que não somos máquinas e que certas reações são imprevisíveis.
Envio todos os meus sinceros sentimentos à família.
Que Deus esteja com Talita!
Franciny Chequer
Ola, boa tarde.
Vaidade, engraçado uma palavra, mas e algo tão devastador, na vida das pessoas, eu lamento muito por todas as mulheres que chegam ao ponto de morrer por essa palavra, dizer que não sou mentira, já fiz uma Lipo tb, e ao ler isso, e muitas outras noticias, agradeço a Deus que a minha foi bem, mas pq nós ainda estamos nos maltratando assim, hoje se entrar em uma Farmacio vende-se mais tratamentos para a vaidade e estetica, do que pra doenças, a que ponto chegamos, e o que vale e o que nossa aparencia reflete, não o que as nossas almas refletem.
E ainda nos achamos evoluidos
Mil beijos
sulmara
concordo com os comentários sobre: “não julgar para não sermos julgados”, ou sobre : “mesmo os médicos competentes estarem sujeitos a reações inesperadas dos pacientes”. Mas há uma coisa que sempre deve prevalecer: a responsabilidade sobre nossos atos no exercício da profissão, e o reconhecimento de nossos erros a tempo de evitarmos consequências irreparáveis, irreversíveis. Acompanhei o caso dia, a dia….talvez nada tivesse mudado o destino da “menina Talita”, talvez ela se fosse de qualquer modo. Mas sempre restará a dúvida quanto ao fato de o médico tê-la deixado na clinica em que fora operada, sem qualquer recurso para Tratamento intensivo por 1 dia, ter sido decisivo para o desfecho tão triste de uma história que estava apenas começando. Errar é humano…..embora errar com a vida humana e tentar omitir esse erro, pode ser fatal. Assim, creio que devam ficar 2 lições: a primeira é a de se repensar os valores das pessoas, o que mais importa é o que são ou como são? ; a segunda é a de se repensar se uma vida vale mais que um nome, ou para se preservar um nome, vale uma vida.
Tanise Kormann
Boa noite,
sou irmã de Talita e gostaria de agradecer as doces palavras em seu texto, muito obrigada pela força naqueles dias tão dolorosos, não tenho como expressar em palavras minha gratidão.
Com relação a dúvidas dos fatos DENISE, não a temos mais, os laudos foram conclusivos, houve perfuração no esofago, nos pulmões e lesão na traquéia …tudo devidamente documentado (inclusive veja as reportagens que sairam na redetv, band, agora, record, jornal da vila prudente, paulistano…- todos essas foram feitas com os laudos divulgados por mim na imprensa, todos vieram ver pessoalmente a veracidade as informações documentadas, inclusive na redetv – manhã maior do dis 26/01/10 – a cirurgiã Valéria, olhou o prontuário e os laudos por completo antes de iniciarmos a entrevista que era ao vivo, assim, sei que é difícil, pois tb possuia um grande carinho por IVAN, que já era conhecido da família,porém com relação aos fatos ocorridos com minhã irmã não existe mais esclarecimentos da parte dele a ser dado).
Denise, vc com certeza tb fora enganada por ele, dê uma olhada no receituário do IVAN, se ainda o possuir, O cirurgião em seu receituário coloca ser MEMBRO TITULAR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLASTICA, NÃO O É, uma sindicancia fora aberta pois esse “DOUTOR” fora DESLIGADO do mesmo órgão em março de 2005 (para aqueles que desconfiam, deem uma olhadinha no site da SBCP e busquem o nome). Ele tentou se associar dias após o óbito de minha irmã.
O Dr. HÉLIO AGUSTO FERREIRA JORGE JUNIOR , médico assistente do IVAN DE CAMARGO BERTANHA, teve a capacidade de colocar o dreno ERRADO em minha irmã e deixar que ela ficasse com ele por 24 Hs, dados esses somente revelados com os laudos do próprio hospital das clínicas (fatos de desconhecimento da família até o óbito).
Emílio, não vou me alongar nos comentários com relação ao médico pois, só quem esteve, durantes esses 11 dias ao nosso lado e do da Talita, como vc e sua noiva, sabem realmente oq aconteceu, como fora o comportamento do médico (falta de ética é pouco para o IVAN BERTANHA E SEUS ASPIRANTES A CIRURGIÕES).
Assim, termino agradecendo novamente o texto belíssimo e todo seu carinho.
OSVALDO LUIZ
Olá Emílio! Não conheço,(infelizmente), você nem a família da Talita mas a uns dois ou três meses atrás conheci o teu blog e passei a acompanha-lo! Hoje, em mais uma daquelas madrugadas insones, topei com esse post e por um daqueles motivos que a gente desconhece, acabei lendo-o, embora não tivesse nada a ver com o assunto que estava procurando! Não conheço o médico em questão, aliás não conheço cirurgião plástico algum e nem as pessoas que de uma forma ou de outra postaram palavras que parecem querer defendê-lo. (Como se isso fosse realmente possível!), mas conheço inúmeros outros médicos, ou engenheiros, advogados, farmacêuticos, jornalistas, confeiteiros, sapateiros e gente com todo tipo de especialização disso ou daquilo e sei que qualquer um pode cometer algum erro, até de vez em quando e isso jamais vai por em dúvida sua competência ou idoneidade!! Ao que me parece, não foi o caso deste médico! Foram cometidos uma série de erros e junto a eles outra série de tentativas de encobrir esses mesmos erros!! A competência de alguém só pode ser discutida quando ela realmente existe! E “uma série de erros”, definitivamente não acontecem, quando uma pessoa é competente mesmo! Nenhuma destas discussões trarão Talita de volta mas nós, que estamos aqui, precisamos aprender que algumas pessoas, com carreiras até brilhantes, não necessariamente são competentes; elas apenas têm levado sorte em não cometer grandes erros, como o garoto de 18 ou 20 anos que pratica rachas nas vias publicas e,(milagrosamente!), chega a envelhecer sem maiores danos! Um médico estuda muito pra ser o que é, e sabe das implicações de todos os seus atos, inclusive daqueles que lhe fogem ao controle! Eu, terei de amputar minha perna direita por que há sete anos um médico fez uma cirurgia quando não devia, outros perderam a vida simplesmente por que seu médico,(de confiança), de tantos anos lhe deu uma receita errada! De repente eu até já falei demais, então, pra encurtar a história…; Não dá pra pensar no lado do médico! Não é questão de julgamento! Ele sabe que tem vidas em suas mãos! Não existe… eu repito: NÃO EXISTE fatalidade!! Um médico, também é um ser humano, mas ele ESCOLHEU ser um humano diferente! Um ser humano que NÃO TEM O DIREITO DE ERRAR! Quando um médico faz tudo certo e alguém morre, isso pode ser aceito mas quando ele erra e alguém morre, isso não é aceitável, não é admissível e não dá pra ficar com peninha dele não! Meus amigos médicos que me desculpem mas também… eles sabem que penso assim e mesmo que alguns não concordem inteiramente, jamais tiveram, ou terão argumentos pra falar abertamente algo contrário! Me desculpem, acho que acabei usando o espaço pra um desabafo mas de qualquer forma acho justo pelo menos gerar um pouco de discussão nesse sentido!! Meus sentimentos á família da Talita, Deus os abenções e a você e sua noiva!! Abraço!!
Marina
Hoje, antes de marcar com este cirurgião, encontrei o seu post. Lamento muitíssimo pela familia da Srta. Talita. Esse médico ainda atende e faz cirurgia, pois foi uma amiga, que fez cirurgia ano passo com ele, quem me indicou. Ele nao deveria mais ter o direito de fazer cirurgias plasticas, na minha opiniao.