Este post é uma adaptação de um artigo do site Psychology Today com a perspectiva do Dr. Alan J. Steinberg sobre a revolução da nossa compreensão da consciência com a física quântica.
A física quântica, provavelmente o nosso método científico mais sofisticado para a compreensão do universo, tem desafiado consistentemente os limites tradicionais de várias disciplinas, incluindo a psicologia. À medida que a física quântica explora o desconcertante reino da consciência, ela levanta questões profundas. Poderiam a física e a psicologia se entrelaçarem em sua busca pela compreensão da consciência?
Os três pilares da física quântica
Para compreender o alcance desta questão, devemos primeiro examinar três princípios geralmente aceitos da física quântica. Quando tomados em conjunto, argumento que estes princípios sugerem uma perspectiva revolucionária: tudo no universo é composto por uma consciência singular e unificada.
O primeiro princípio afirma que o colapso da função de onda de um objeto requer um observador consciente. Em segundo lugar, a física quântica afirma que o universo está interligado na sua totalidade e instantaneamente, não deixando espaço para a separação. Por último, postula que a nossa realidade depende do observador.
O observador consciente e o colapso da função de onda
No mundo quântico, as partículas existem em estado de superposição, incorporando todos os estados possíveis simultaneamente antes de serem observadas. Este estado probabilístico é denominado “função de onda”. O processo de observação dessas partículas virtuais faz com que a função de onda entre em colapso, forçando a partícula a se estabelecer em um estado instantaneamente, tornando-se assim não-virtual e “real”.
Este fenómeno quântico implica que tudo no nosso universo, antes de ser observado conscientemente, é uma função de onda que oscila no limite da possibilidade. Nosso universo, desde o seu início durante o Big Bang, depende da observação consciente para sua própria existência. Martin Rees, um aclamado professor da Universidade de Cambridge e Astrônomo Real da Inglaterra, resume o papel da observação consciente na criação do universo. Ele postula: “No início, havia apenas probabilidades. O universo só poderia existir se alguém o observasse… O universo existe porque temos consciência dele.”
Uma analogia: a vida é apenas um sonho
Este conceito quântico de observação consciente e colapso da função de onda pode parecer meio ‘esotérico’, certo? No entanto, ao examinar o que ocorre durante um sonho, que tradicionalmente está dentro do domínio da psicologia, chegamos a uma analogia que nos ajuda a dar sentido a esta estranheza quântica.
Imagine-se sonhando, saboreando uma bola de sorvete cremoso de chocolate na sua sorveteria favorita. Neste sonho, o seu avatar, embora seja uma representação sua, depende do seu eu real – o observador ou o sujeito. Quando você para de observar o avatar do seu sonho, talvez ao acordar, tanto o avatar do sonho quanto o sorvete desaparecem, retornando a um estado semelhante a uma função de onda virtual.
Fazendo um paralelo com a afirmação do Professor Rees sobre o Big Bang, poderíamos afirmar: “O sonho existe porque temos consciência dele”. Esta analogia também encontra eco nos Upanishads, antigos textos sagrados que oferecem profundas percepções filosóficas: “Somos como o sonhador que sonha e depois vive no sonho. Isto é verdade para todo o universo. É por isso que se diz: ‘Tendo criado a criação, o Criador entrou nela.“
Os Upanishads sugerem que o Criador, agindo como o observador final, desencadeia o colapso da função de onda do universo.
O Universo: Uma Entidade Única Consciente
O emaranhamento quântico, um fenômeno da física quântica verificado repetidamente, propõe uma ligação instantânea entre todas as entidades do universo. Esta interligação generalizada faz sentido com a noção de que o nosso universo é composto por uma consciência singular unificada, tornando a aparente separação uma ilusão.
A física quântica tem lutado com a ramificação filosófica desta falta de separatividade, ou não-dualidade, desde o seu início. Erwin Schrödinger, em 1944, em seu livro O que é vida? Mente e matéria escreveu “sujeito e objeto são um só. Não se pode dizer que a barreira entre eles tenha sido quebrada… pois esta barreira não existe.”
Em 1979, num artigo na Scientific American, o notável físico teórico francês Bernard d’Espagnat afirmou que “a doutrina de que o mundo é feito de objetos cuja existência é independente da consciência humana acaba por estar em conflito com a mecânica quântica e com os fatos estabelecido por experimento.” Este sentimento foi posteriormente repetido pelos físicos Rosenblum e Kuttner no seu livro O enigma quântico: O encontro da física com a consciência (2011), afirmando que “a teoria quântica diz-nos que a realidade do mundo físico depende de alguma forma da nossa observação dele”.
Combinando Física Quântica com Psicologia
Os insights obtidos com a física quântica sugerem que o que a psicologia descobriu sobre a mente humana poderia ser aplicado a uma consciência singular e unificada ou ao que poderíamos chamar de Mente Cósmica. Os Upanishads dizem que existe uma simetria impressionante inerente ao nosso universo, que nos permite aplicar o que aprendemos da psicologia à Mente Cósmica: “Assim como é o corpo humano, assim é o corpo cósmico. Assim como é a mente humana, também é a mente cósmica. Assim como é o microcosmo, assim é o macrocosmo. Assim como é o átomo, assim é o universo.” Ou em outras palavras: “Assim na Terra como no Céu“.
Os Upanishads implicam que nosso universo opera com base nos princípios de simetria e analogia. Essa percepção traz repercussões substanciais para a psicologia. A disciplina, convencionalmente focada na compreensão das mentes individuais e nas suas interações com o mundo, pode precisar de se expandir para examinar a natureza da consciência unificada que compreende o nosso universo.
Horizontes Terapêuticos
Num universo interligado sustentado pela consciência unificada, a fronteira entre terapeuta e paciente, observador e observado, começa a confundir-se. Esta mudança poderá abrir caminho a técnicas terapêuticas inovadoras que aproveitem esta interligação e não-dualidade, aperfeiçoando assim os nossos tratamentos que melhoram a saúde mental e o bem-estar.
Além disso, se a consciência estiver de fato unificada e interligada, isso implica que as nossas ações, pensamentos e sentimentos individuais poderão exercer uma influência mais significativa na consciência coletiva do que atualmente percebemos. Esta compreensão sublinha o papel vital da saúde mental de cada indivíduo na formação do bem-estar social.
Conclusão
Concluindo, a integração de insights da física quântica na psicologia poderia ampliar o escopo da disciplina, oferecendo uma perspectiva nova e transformadora. Esta mudança de paradigma tem o potencial de revolucionar a nossa compreensão da consciência, reformar as práticas de saúde mental e, em última análise, aproximar-nos do desvendar verdades profundas sobre a nossa existência.
Portanto, vale a pena o esforço da psicologia contemporânea para abraçar e explorar estas revelações da física quântica, para redefinir os seus limites e enriquecer a sua compreensão das complexidades da consciência.
O Dr. Alan J. Steinberg é médico em Beverly Hills, Califórnia (EUA), e autor de vários livros. Seu livro mais recente é To Be Enlightened (não publicado no Brasil).
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