Sábado de manhã precisei ir à Rua Santa Ifigênia comprar alguns acessórios para o micro. Já tive mais paciência para essas incursões, agora simplesmente evito ao máximo ir até lá. Como não havia escolha, tentei ser o mais breve possível. E na verdade fui mesmo – não levei mais de 15 minutos entre deixar o carro no estacionamento, embrenhar-me pela fauna local, encontrar o que queria e voltar para o carro. Acho que foi minha passagem mais rápida por lá, comparando com as manhãs inteiras em que ficava caçando jogos antigos para minha coleção.
Mas é impressionante como, mesmo permanecendo pouco, vê-se muito. Enquanto rumava para a loja, fui passando por camelôs na rua que queriam me empurrar softwares, jogos de videogame e cartuchos para impressora. Ignorei-os o máximo que pude, até que um deles me puxou pelo braço. O sujeito estava com os olhos vermelhos, injetados e fixava um ponto vazio no espaço enquanto falava comigo:
– Aí mano, vai jogo de PlayStation?
– Não, obrigado.
– E jogo de PC? Fala aí que eu arrumo, tá ligado?
– Também não quero jogos de PC.
– Então, que programa cê ta procurando? Aqui a gente tem tudo.
– Não quero programas também, obrigado. Preciso ir.
Enquanto falava comigo, ele me cutucava o braço, reforçando fisicamente suas frases. A cada três palavras, ele apertava o dedo no meu braço. E aí soltou a pérola:
– É mano… Os cara passa aí e vê nóis assim e acha que tamo ‘bem loco’. Mas a parada é a seguinte: Mesmo ‘bem loco’ tô aqui trampando, falou.
Nessa hora, não consegui segurar a risada. Dei um tapinha nas costas do sujeito, disse algo como “isso aí, o importante é estar trabalhando”, e fui comprar o que precisava. Depois dessa, dizer mais o quê?
Paulo C. Barreto
Odeio que me cutuquem. Se fosse o papa, eu diria na lata: “Não me cutuque, Santidade!”